Relutância com vacinação no leste europeu causa surto de infecções por Covid-19

Fatores culturalmente enraizados nos países fez com que a imunização deixasse de ser uma questão sanitária para se tornar uma discussão política

A baixa procura pela vacinação contra a Covid-19 está causando um surto de infecções em muitos países do leste europeu, com destaque para Ucrânia e Rússia. O problema não é a escassez de imunizantes, como ocorre em diversas partes do mundo, e sim fatores culturalmente enraizados nos países, o que faz com que a aplicação do esquema vacinal torne-se uma questão política, e não sanitária. As informações são da agência Associated Press (AP).

Segundo Catherine Smallwood, gestora de incidentes Covid-19 da OMS (Organização Mundial de Saúde), a desconfiança da população e experiências anteriores com outros imunizantes são aspectos que têm ditado um ritmo lento na procura pelas doses.

“Estamos vendo uma baixa aceitação da vacina em toda uma faixa de países naquela parte da Europa”, disse ela, citando o leste europeu. “Questões históricas em torno das vacinas entram em jogo. Em alguns países, toda a questão da vacina é politizada”, disse.

Mãe e filha durante a pandemia de coronavírus na Rússia (Foto: WikiCommons)

Um ano e sete meses após o início da pandemia, as nações da região vêm superando marcas negativas. Nesta quinta-feira (28) a Rússia registrou o recorde no número de mortes por coronavírus: 1.159 em 24 horas. Atualmente, somente um terço da população do país, que tem cerca de 146 milhões de habitantes, tomou as duas doses. Para tentar estancar as infecções, o Kremlin decretou recesso para trabalhadores não essenciais, que irá se estender até o dia 7 de novembro.

Já na Hungria, uma fonte do governo declarou que as empresas privadas poderão exigir vacinação dos funcionários para trabalhar, uma medida que visa a dar fluência à vacinação, que também estagnou. A norma poderá ser estendida a funcionários públicos, como professores.

Também nesta quinta, a Polônia igualmente bateu um recorde: maior número de novas infecções em apenas um dia, ultrapassando 8 mil.

Na Ucrânia, apenas 16% da população adulta se vacinou integralmente. É a segunda parcela mais baixa da Europa, à frente somente da Armênia, com pouco mais de 7% imunizados. O país também adotou o passaporte sanitário, com exigência de vacinação completa para funcionários públicos, professores e outros trabalhadores. O prazo concedido irá até 8 de novembro, e quem não cumprir sofrerá corte na folha de pagamento. Ainda há exigência de comprovante de vacina ou teste negativo para entrar em aviões, trens e ônibus de longa distância.

A Bulgária também enfrenta um momento nebuloso. O país, que tem apenas um quarto de sua população adulta totalmente vacinada, relatou infecções e mortes recordes nesta semana. De acordo com dados oficiais, é a maior taxa de mortalidade por coronavírus nas 27 nações da União Europeia (UE) nas últimas duas semanas. E o detalhe mais revelador: 94% das mortes ocorreram entre os não vacinados.

Mercado negro de comprovantes

Na Ucrânia, a exigência dos chamados passaportes sanitários resultou em um mercado negro de documentos falsificados. As carteirinhas são vendidas a preços que vão de US$ 100 a US$ 300. Os criminosos chegaram a desenvolver até uma versão falsa do aplicativo digital do governo. Um ex-parlamentar foi pego usando um documento falso há poucos dias.

Na semana passada, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy coordenou uma reunião que discutiu o enfrentamento às falsificações. A polícia trabalha com a suspeita do envolvimento de funcionários de 15 hospitais. Foram abertos 800 processos criminais, e 100 unidades móveis foram colocadas em ação para rastrear usuários dos apps, disse o ministro do Interior, Denys Monastyrsky.

Rússia fora de controle

O agravamento da situação na Rússia registrada nesta quinta-feira (28) repercutiu em um salto no número oficial de mortos para 235.057 – o maior da Europa. As autoridades são acusadas de minimizar drasticamente esse número, relatou o jornal independente The Moscow Times.

De acordo com um levantamento do veículo, baseado em dados do serviço nacional russo de estatísticas (Rosstat), o número real de óbitos estaria na casa de 660 mil desde o início da pandemia. Já o número total de casos está perto de 8,4 milhões, colocando o país na quinta posição do mundo no ranking de infecções.

Aliada à estagnação da campanha de vacinação, a variante Delta é tida como a grande responsável pelos surtos no país. As férias pagas obrigatórias da Rússia para trabalhadores não essenciais entrará em vigor a partir deste sábado (30), indo até o dia 7 de novembro.

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