Conservadores projetam rigidez com a China caso vençam eleição na Coreia do Sul

A nova postura encerraria a neutralidade do partido de situação diante de temas delicados do país vizinho, como direitos humanos

A poucos meses das eleições presidenciais na Coreia do Sul, o principal partido conservador do país tem dado mostras de que irá enrijecer as relações com a China e dará maior atenção a questões de direitos humanos em sua política externa caso retome o poder, no pleito marcado para março. A nova postura encerraria a neutralidade do partido de situação diante de temas delicados do país vizinho, segundo a rede Voice of America (VOA).

Os Estados Unidos veem com bons olhos uma mudança no cenário político de Seul, já que faz esforços para unir aliados no continente asiático e assim refrear a China. No entanto, observadores internacionais têm lá suas dúvidas se os conservadores sul-coreanos administrariam uma mudança que causaria possíveis impactos econômicos.

Isso porque a Coreia do Sul vive em uma gangorra com as principais economias globais. Um lado pende para os EUA, seu antigo aliado de tratado de defesa mútua. O outro para a China, o principal parceiro comercial.

Os conservadores Lee Jun-seok, presidente do PPP, e o favorito à presidência, Yoon Seok-youl (à esquerda), no distrito de Gwangjin, Seul (Foto: WikiCommons)

Mas Seul tem seu favorito nas Américas, e não na vizinhança. Washington está mais perto do presidente Moon Jae-in, que já levou o país que ele lidera para diversos fóruns multilaterais capitaneados pelos Estados Unidos – inclusive aqueles que não abrem as portas para Beijing ou desaprovam o regime chinês.

Embora tenha trânsito em locais que não poupam críticas aos chineses, Moon se mantém neutro em questões espinhosas que envolvem a liberdade de expressão, como a repressão ao movimento pró-democracia de Hong Kong, e direitos humanos, como o abuso dos uigures na região oeste de Xinjiang.

‘Valores universais’ e provocação

Candidato presidencial pelo conservador Partido do Poder Popular (PPP), Yoon Seok-youl falou em um fórum político na segunda-feira (22) em Seul, sobre diplomacia baseada em “valores universais”, como democracia liberal, direitos humanos e estado de direito.

Ao abordar o coronavírus, o político mostrou que estaria disposto a mexer no vespeiro da China. Ele se referiu à Covid-19 como o “vírus de Wuhan“. Ele também declarou que a imigração chinesa para a Coreia do Sul deveria ter sido interrompida no início da pandemia.

Apesar da dureza, Yoon é mais moderado que alguns colegas de PPP. Outros membros do partido conservador são ainda mais enérgicos no que diz respeito à Coreia do Sul se alinhar contra a China. Um deles é o chefe do PPP, Lee Jun-seok, que criticou o atual governo sul-coreano por “hesitar em dizer se se aliará ao lado da democracia ou aos inimigos da democracia”. “Devemos apoiar os ideais democráticos – é uma questão de valores essenciais”, disse Lee em entrevista à VOA.

Há meses Yoon vem ensaiando um alinhamento da Coreia do Sul com os EUA, contrariando o que se convencionou chamar de “ambiguidade estratégica” que Seul usou para equilibrar seu relacionamento com Washington e Beijing. “É preciso liderar os negócios do país com clareza estratégica”, declarou o político recentemente a um jornal sul-coreano.

Inteligência política

A bronca dos conservadores sul-coreanos com a China parece ter respaldo nas ruas. Em 2015, apenas 37% população tinha uma visão negativa da China, de acordo com o think tank Pew Research Center, com sede em Washington. Em 2020, o número saltou para 75%.

Mas, sob o ponto de vista econômico, tal desavença pode trazer prejuízos. Neste ano, a China foi responsável por 26% das exportações da Coreia do Sul e 23% das importações. “Precisamos ser inteligentes”, ponderou Kim Ji-na, pesquisador do Instituto Coreano de Análise de Defesa, com sede em Seul. “Transformar a China em um inimigo econômico poderia minar seriamente os interesses nacionais da Coreia do Sul.”

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