Ucrânia e EUA condenam prisão de líder tártaro na Crimeia por autoridades russas

Nariman Dzhelal e outros 45 membros do grupo étnico são considerados presos políticos

A prisão de um dos líderes tártaros na Crimeia pela russa FSB (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês), juntamente de outros 45 membros do grupo étnico, foi condenada por Ucrânia e EUA neste domingo (5), sob a acusação de ter motivação exclusivamente política. As informações são da agência Reuters.

Nariman Dzhelal, vice-presidente do Mejlis (órgão diretivo nacional tártaro), foi detido no sábado (4) por autoridades da conflituosa península anexada pela Rússia.

A justificativa, relatada pela agência de notícias estatal russa Interfax, cita uma fonte anônima e relaciona Dzhelal e outros quatro ativistas à sabotagem de um gasoduto perto da capital da Crimeia, Simferopol, em agosto. As prisões ocorreram um dia depois de a Ucrânia alegar que as acusações teriam sido forjadas.

A Radio Free Europe repercutiu a declaração do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Para o líder, tais prisões representam uma “retaliação à cúpula inaugural da Plataforma da Crimeia“, um instrumento internacional que visa à restauração da integridade da Ucrânia e posterior desocupação da República Autônoma da Crimeia.

Nariman Dzhelal foi detido no sábado (Foto: reprodução Facebook)

Um comunicado emitido pelo Departamento de Estado dos EUA insta as autoridades de ocupação russas a “libertarem imediatamente” os detidos, classificando o ato como “o mais recente de uma longa linha de ataques, detenções e medidas punitivas contra o Mejlis e sua liderança”.

Já embaixada do Canadá na Ucrânia afirmou que “condena a detenção de Nariman Dzhelal e quatro outros tártaros da Crimeia pelo Serviço de Segurança Federal da Rússia. O grupo de Dzhelal estava simplesmente exercendo seu direito à liberdade de expressão e reunião”.

No Twitter, o ministro do Exterior ucraniano, Dmytro Kuleba, escreveu que a Rússia “aumentou o terror na Crimeia ocupada” ao prender Dzhelyalov e seus apoiadores. Ele acusou Moscou de “táticas covardes”.

Violência e irregularidades

Um relatório publicado na semana passada pelo OHCHR (Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, da sigla em inglês) revela casos de tortura e desaparecimentos forçados atribuídos ao governo russo, bem como uma série de irregularidades jurídicas cometidas em casos julgados por tribunais da região anexada da Crimeia.

O relatório cita nominalmente a FSB como responsável por muitas das irregularidades em ações judiciais. A mais comum é a de testemunhas anônimas usadas pela acusação. Há casos de depoimentos incriminatórios colhidos por agentes e de amostras de DNA retiradas dos acusados antes que esses pudessem consultar os advogados. 

Eventos extremos indicam desaparecimentos forçados até hoje não solucionados. O documento cita 43 pessoas, sendo 39 homens e 4 mulheres, que sumiram na Crimeia desde março de 2014. Torturas também são habituais, e nenhum dos autores desses crimes foi condenado até hoje.

Por que isso importa?

Desde a anexação, considerada ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), instituições de direitos humanos denunciam a resposta agressiva da Rússia aos ativistas da região. Segundo o embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, há relatos de prisões “motivadas politicamente” todos os dias.

O governo russo também apoia os separatistas que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito já matou mais de 13 mil pessoas.

Washington é considerado o principal aliado de Kiev desde que a Rússia anexou a Crimeia e o conflito no leste da Ucrânia teve início.

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