Jornalista que protestou contra o veto às afegãs na universidade é preso pelo Taleban

Ismail Mashal, que gravou um vídeo rasgando seu diploma, foi detido e violentamente agredido por talibãs, segundo o assessor dele

O Taleban prendeu na última quinta-feira (2) o jornalista e acadêmico afegão Ismail Mashal, que vinha protestando contra o veto à presença de mulheres nas universidades do Afeganistão. Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, ele aparece rasgando o próprio diploma para contestar a repressora medida imposta pelos radicais no campo da educação. As informações são da agência Al Jazeera.

O protesto que viralizou ocorreu durante um programa no canal noticioso afegão TOLOnews. Mashal, então, disse à agência AFP que continuaria a protestar mesmo que isso “custe minha a vida”. E justificou a decisão de rasgar os diplomas: “Como homem e como professor, não pude fazer mais nada por elas (as mulheres afegãs) e senti que meus certificados haviam se tornado inúteis”.

Integrantes do Taleban no Afeganistão (Foto: Wikimedia Commons)

A prisão foi confirmada no Twitter por Abdul Haq Hammad, diretor do Ministério da Informação e Cultura do Taleban.

“O professor Mashal, que há algum tempo vem realizando ações provocativas habilidosas contra o sistema, reuniu um grande número de repórteres e juntou uma multidão na rodovia principal. As agências de segurança o levaram para investigação”, diz o post

Ainda de acordo com Hammad, “ações que jogam a população afegã contra o sistema não são boas para o país”. O diretor do Ministério disse ainda que Mashal foi autorizado a entrar em contato com a família e que havia sido bem tratado pelo Taleban.

No momento da prisão, o jornalista, que também leciona em cursos universitários no Afeganistão, estaria distribuindo livros a cidadãos locais. “Ele ainda está detido e não sabemos onde ele está detido”, afirmou Farid Ahmad Fazli, assessor de Mashal, alegando que o amigo foi violentamente agredido pelos talibãs que o detiveram, embora não tenha “cometido nenhum crime”.

Por que isso importa?

A vida das mulheres tem sido particularmente dura no Afeganistão. Aquelas que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã.

Na educação, o governo extremista mantém fora da escola cerca de três milhões de meninas acima da sexta série, sob o argumento de que as escolas só serão reabertas quando os radicais tiverem a certeza de um “ambiente seguro”. Já o ensino universitário foi vetado para as afegãs.

Mulheres também não podem sair de casa desacompanhadas, e há relatos de solteiras e viúvas forçadas a se casar com combatentes. Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.

Há ainda um código de vestimenta para as mulheres, forçadas a usar o hijab quando estão em público. Como forma de protestar, mulheres afegãs em todo o mundo iniciaram um movimento online, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).

A repressão de gênero é um das razões citadas pelas nações de todo o mundo para não reconhecerem o Taleban como governantes de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza. O reconhecimento internacional fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza.

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