Mais de 2.200 pessoas morreram e outras 3.600 ficaram feridas no terremoto de magnitude 6 que atingiu o leste do Afeganistão no último dia 31. Entre os sobreviventes, mulheres e meninas enfrentaram uma provação adicional: a impossibilidade de receber atendimento imediato por causa das restrições impostas pelo regime talibã. As informações são do The New York Times.
Socorristas chegaram à aldeia de Bibi Aysha apenas 36 horas após o tremor, mas nenhum deles era mulher. As normas culturais aplicadas pelo Taleban proíbem que homens toquem mulheres que não sejam familiares, mesmo em situações de emergência. Como consequência, enquanto homens e crianças eram resgatados e tratados, mulheres feridas foram deixadas de lado.
“Eles nos reuniram em um canto e se esqueceram de nós”, relatou Aysha, de 19 anos. Em outras localidades, voluntários afirmaram que vítimas do sexo feminino permaneceram presas sob escombros até a chegada de mulheres de vilarejos vizinhos. “Parecia que as mulheres eram invisíveis”, disse Tahzeebullah Muhazeb, de 33 anos.

A escassez de profissionais de saúde femininas agravou o problema. Desde 2023, o Taleban proibiu mulheres de cursarem medicina, ampliando a falta de médicas e enfermeiras no país. Em hospitais visitados por repórteres internacionais, não havia funcionárias do sexo feminino.
Para organizações humanitárias, o desastre evidencia a desigualdade enfrentada por mulheres afegãs. “Precisamos garantir que suas necessidades estejam no centro da resposta e da recuperação”, afirmou Susan Ferguson, representante da ONU Mulheres no Afeganistão.
Enquanto o país ainda sofre com tremores secundários, a realidade é que, para muitas sobreviventes, sobreviver ao desastre natural foi apenas o primeiro obstáculo. “Ser mulher aqui significa sempre ser a última a ser vista”, disse Aysha.
Misoginia
Desde o colapso do governo afegão, a repressão contra mulheres e meninas tem sido marca do Taleban. Elas não podem estudar, trabalhar ou sair de casa desacompanhadas de um homem. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã. E foram relatados casos de solteiras ou viúvas forçadas a se casar com combatentes.
Em 2023, os radicais proibiram inclusive o trabalho das mulheres afegãs em organizações não governamentais e na ONU (Organização das Nações Unidas), o que levou muitas dessas entidades a suspenderem a ajuda humanitária que ofereciam à população do Afeganistão, uma das mais necessitadas de tal suporte em todo o mundo.