Kremlin diz que eventuais sanções a Putin decretariam o colapso da relação com EUA

Declaração veio após anúncio de Washington sobre medidas destinadas a “devastar” a economia russa no caso de uma invasão à Ucrânia

A possibilidade de Washington impor sanções econômicas ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, no caso de uma incursão à vizinha Ucrânia seria uma medida “extrema” e implicaria em uma ruptura total nas relações entre os países, declarou o Kremlin nesta quinta-feira (13). As informações são do site independente The Moscow Times.

O comentário veio na esteira do anúncio feito na quarta-feira (11) por senadores dos EUA, respaldados pela Casa Branca, a respeito de um agressivo pacote de sanções organizado com o objetivo de “devastar” a economia russa se as ameaças de uma invasão à antiga república soviética saírem do papel.

Entre as medidas estariam penalidades pessoais endereçadas a Putin e outros altos funcionários do governo, incluindo o primeiro-ministro Mikhail Mishustin e o ministro das Relações Exteriores Sergei Lavrov.

Kremlin, em Moscou, sede do governo da Rússia e da extinta União Soviética (Foto: W. Bulach/WikiCommons)

Aplicar sanções a um chefe de Estado e a autoridades associadas seria um episódio raro na diplomacia norte-americana, considerando que, anteriormente, os EUA destinaram pacotes do gênero somente a funcionários de nível inferior.

“Introduzir sanções contra o chefe do governo ou o chefe da Rússia é uma medida extrema que é comparável a um colapso nas relações”, disse o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov durante coletiva de imprensa em Moscou, segundo relatou a agência estatal de notícias Tass.

Uma mensagem em tom de ameaça também foi dada por Peskov. “O que a Rússia está pronta para fazer? A Rússia está sempre pronta e sempre fará o que for do melhor interesse do nosso país”, acrescentou.

De acordo com o projeto de lei do Senado, Washington teria a missão de investigar e publicar um relatório sobre a riqueza e os bens pessoais de Putin, seus familiares e quaisquer outras pessoas que os EUA julguem possuir bens em nome dele.

Outra questão delicada das sanções envolve bens e dinheiro. Devido ao papel de protagonismo dos EUA na economia global, as punições pessoais também iriam interferir no acesso a propriedades e contas bancárias mantidas na maioria dos países ocidentais.

Moscou está procurando uma saída para o impasse, tentando chegar a um acordo para que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) cesse definitivamente sua expansão rumo ao leste, o que forçaria a Ucrânia a estabelecer seu relacionamento com a Rússia nos termos da Rússia. 

Porém, Peskov rejeitou nesta quinta os pedidos da Aliança Atlântica para que a Rússia amenize a situação, retirando os cerca de 100 mil soldados que foram enviados perto da fronteira ucraniana. “É quase impossível que a Otan possa ditar à Rússia onde deve mover tropas em seu próprio território”, disse ele.

Por que isso importa?

tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a UE. A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.

Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península da Crimeia e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da região com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.

Com base no referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território russo. Entre outras medidas, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o número usado na Rússia.

Paralelamente à questão da Crimeia, Moscou também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe ao governo ucraniano as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e contam com suporte militar russo.

Em 2021, as tensões escalaram na fronteira entre os dois países. Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.

Especialistas calculam que a Rússia tenha entre 70 mil e 100 mil soldados nas proximidades da Ucrânia, sendo necessária uma força de 175 mil para invadir, além de mais combustível e munição. Conforme o cenário descrito pela inteligência dos EUA, as tropas russas invadiriam o país vizinho pela Crimeia e por Belarus.

Um eventual conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a fortalecer suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, suas tropas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.

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