À espera de ataque, regiões da Ucrânia ocupadas convivem com desabastecimento e medo

Rússia retira civis de áreas que tendem a ser atingidas pela contraofensiva de Kiev. Situação da usina de Zaporizhzhya preocupa

A expectativa de Moscou por uma poderosa contraofensiva ucraniana tem criado problemas para quem vive nas regiões da Ucrânia ocupadas por tropas da Rússia. O jornal The New York Times ouviu mais de uma dezena de habitantes de duas dessas áreas, Zaporizhzhya e Kherson, que dizem conviver atualmente com a escassez de comida e combustível e relatam ter recebido ordens de evacuação.

Devido à expectativa da contraofensiva ucraniana, que em breve deve transformar essas áreas ocupadas em violentos campos de batalha, a maioria parte da população foi embora. Mas nem todos tomaram tal decisão. Há ainda muitos ucranianos que não admitem deixar suas casas e preferem encarar o medo das bombas, mesmo com pouca comida, postos de gasolina secos e caixas eletrônicos sem dinheiro.

Andriy, um morador da cidade ocupada de Kamianka-Dniprovska, na região de Zaporizhzhya, no sul da Ucrânia, diz que até mesmo hospitais estão sendo fechados, e a população local não recebe qualquer explicação dos ocupantes. “Eles dão alta às pessoas dos hospitais e levam embora o equipamento”, disse ele. “E as pessoas têm medo de perguntar, pois há soldados armados por perto”.

Bombeiros tentam conter as chamas em prédio residencial atingido na cidade de Zaporizhzhya (Foto: Secretary of Zaporizhzhya City Council/Divulgação)

No distrito de Vasylivka, o ex-prefeito Bohdan Starokon diz que apenas um grupo de aproximadamente 80 pessoas foi embora. A população local é atualmente de cinco mil pessoas, contra 22 mil no período pré-guerra. Halyna, moradora da cidade ocupada de Polohy, diz que muitos ônibus foram disponibilizados, e os moradores receberam ordens para embarcar levando apenas a roupa do corpo.

Em Zaporizhzhya, as autoridades russas emitiram ordens de evacuação e esperam que 70 mil pessoas se desloquem. Andrey Kozenko, vice-primeiro-ministro da região para questões econômicas, disse à agência estatal russa Tass que a evacuação é “voluntária”, contrariando o relato de Halyna de que os cidadãos foram obrigados a entrar nos ônibus.

“Crianças e famílias com crianças são grupos de alta prioridade. O processo de realocação já começou no distrito de Polohy, com pessoas sendo realocadas para a cidade de Berdyansk”, declarou a autoridade russa no final da semana passada. Àquela altura, segundo ele, apenas cerca de 500 pessoas já haviam sido realocadas.

A evacuação atinge inclusive acidade de Enerhodar, ondem vivem os funcionários da usina nuclear de Zaporizhzhya, a maior da Europa. A situação preocupa a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pois o funcionamento e a consequente segurança do local dependem dos trabalhadores ucranianos, embora a usina esteja atualmente sob o controle de forças russas.

“A situação geral na área próxima à Usina Nuclear de Zaporizhzhya está se tornando cada vez mais imprevisível e potencialmente perigosa”, alertou Rafael Mariano Grossi, diretor geral da AIEA, em comunicado publicado no site da agência. “Estou extremamente preocupado com a segurança nuclear real e os riscos de proteção enfrentados pela usina”, acrescentou.

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