Alemanha bloqueia venda de duas fabricantes de chips para investidores chineses

Berlim tem lutado contra a dependência econômica de países que potencialmente ameaçam sua infraestrutura crítica

Alegando potencial ameaça à segurança nacional, a Alemanha bloqueou na quarta-feira (9) a venda de duas empresas fabricantes locais de chips para investidores chineses. Segundo o governo, a justificativa se baseia em preocupações relacionadas ao fluxo de conhecimento tecnológico sensível para Beijing. As informações são da agência Reuters.

A empresa chinesa Sai MicroElectronics tinha a intenção de comprar a fábrica de chips Elmos, na cidade de Dortmund, por meio de sua subsidiária sueca Silex. O valor da transação seria de 85 milhões de euros.

“Devemos olhar muito de perto as aquisições de empresas quando se trata de infraestrutura importante ou quando há o perigo de que a tecnologia flua para compradores de países não pertencentes à União Europeia (UE)”, disse o ministro da Economia alemão, Robert Habeck.

Semicondutor em linha de produção (Foto: Pxfuel/divulgação)

De acordo com o órgão governamental, “a compra poderia colocar em risco a ordem e a segurança da Alemanha”. Além da Elmos, Berlim também bloqueou o investimento chinês na ERS Electronic, que tem sede no estado da Baviera, no sul do país. A empresa fornece tecnologia de resfriamento para fabricantes de wafers – placas de semicondutores feitas de silício e usadas como base para a criação de chips processadores.

Um porta-voz da ERS Electronic disse que não há planos de vender a empresa, porém, reconhece que está considerando obter investimento de uma empresa chinesa de capital privado.

Em meio a um momento tido como sensível nas relações entre Beijing e Berlim, crescem os temores quanto a uma dependência excessiva da maior economia da Europa em relação à China, principalmente por receios de que a infraestrutura crítica alemã caia nas mãos de empresas chinesas ligadas ao Estado.

Na semana passada, o chanceler Olaf Scholz visitou a China. A viagem sinaliza seu empenho pela busca de um equilíbrio no acesso ao mercado chinês para empresas europeias, levando em consideração preocupações de cibersegurança, bem como a redução da dependência comercial do seu país.

No entanto, a viagem de Scholz gerou polêmica pelo fato de ter sido tão próxima ao anúncio do terceiro mandato de Xi Jinping, que fortaleceu seu poder após o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC), realizado mês passado.

Com o aumento nas tensões entre o Ocidente e Beijing, que inclui além de Taiwan questões de supostos abusos de direitos humanos, havia preocupações de que o encontro entre os líderes incomodasse tanto os Estados Unidos quanto a União Europeia.

A Alemanha está num processo de revisão da sua política em relação à China, principalmente após o início da guerra na Ucrânia em fevereiro, que expôs a forte dependência do país do gás russo.

“Temos que analisar de perto as aquisições de empresas, quando se trata de infraestrutura importante ou quando há o perigo de que a tecnologia flua para compradores de países não pertencentes à UE”, disse o ministro da Economia, Robert Habeck, em comunicado.

O chefe da pasta ainda acrescentou que é importante proteger a soberania econômica e tecnológica do seu país e da Europa, especialmente no setor de semicondutores.

“É claro que a Alemanha é e continuará sendo um local de investimento aberto, mas também não somos ingênuos”.

Embora tenha dito que não estava ciente dos investimentos eletrônicos específicos da Elmos e da ERS, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse que Beijing incentivou suas empresas a realizar cooperação de investimento em que todos ganham no exterior.

“Todos os países, incluindo a Alemanha, devem fornecer um ambiente de mercado justo, aberto e não discriminatório para a operação normal das empresas chinesas e abster-se de politizar a cooperação econômica e comercial normal, sem mencionar o protecionismo por motivos de segurança nacional”, disse Zhao.

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