Alemanha responde à Rússia com suspensão da certificação do gasoduto Nord Stream 2

Medida é retaliação por Putin ter reconhecido a independência das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, na Ucrânia

Diante das tensões decorrentes da crise na Ucrânia, o chanceler alemão Olaf Scholz declarou nesta terça-feira (22) que seu governo tomou providências para paralisar o processo de aprovação do gasoduto Nord Stream 2, da Rússia. As informações são da agência catari Al Jazeera.

Durante coletiva de imprensa em Berlim, Scholz revelou que solicitou ao Ministério da Economia “que retire o relatório sobre segurança de abastecimento com nossa agência federal de redes”, medida que classificou como “o primeiro passo para garantir que o oleoduto não possa ser certificado neste momento”.

“Sem certificação, o Nord Stream 2 não pode operar. Vamos reavaliar a situação que evoluiu nos últimos dias. É importante lançar novas sanções agora para evitar uma escalada e um desastre”, disse a autoridade alemã, que tem sofrido pressão desde o ano passado de outros líderes políticos da União Europeia (UE) para incluir o gasoduto russo no pacote de medidas drásticas a serem adotadas contra Moscou em caso de uma invasão militar

Navios envolvidos na construção do gasoduto Nord Stream 2, no porto de Mukran, em Sassnitz, Alemanha (Foto: WikiCommons)

O posicionamento de Scholz vem na esteira das declarações do presidente russo Vladimir Putin feitas na segunda-feira (21), de que Moscou reconhece como independentes as autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass, na Ucrânia. O conflito naquele território fez aumentar a tensão dos russos com Kiev, que já era alta desde a anexação da Crimeia. Em 2021, a situação ficou especialmente delicada, chegando ao atual momento de turbulência.

De acordo com a reportagem, a postura do governo alemão pode representar o marco inicial de ações de represália que virão de países europeus e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

“Do ponto de vista alemão, eles sempre quiseram tentar fazer com que a desescalada fosse a palavra geral. Não foi. Eles tiveram que reagir. Scholz e seus colegas no gabinete sempre tentaram evitar se referir ao que eles poderiam fazer. Agora sabemos”, disse o jornalista Dominic Kane, que cobre o conflito europeu para o veículo catari da capital alemã.

“Sabemos que o governo alemão sempre disse que queria tomar medidas multilaterais. A questão agora é o que mais será feito”, acrescentou.

O mega gasoduto Nord Stream 2, localizado no Mar Báltico e avaliado em US$ 11 bilhões, integra a estrutura do Nord Stream 1, em operação desde 2011. Os dutos são responsáveis pelo abastecimento de 40% do gás natural consumido pelos alemães. Apesar de ser propriedade da estatal russa Gazprom, outras cinco empresas europeias investiram metade dos recursos para o oleoduto – Shell, Uniper, OMV, Wintershall e Engie.

O projeto enfrentou resistência dos Estados Unidos e da UE, que alegam que a obra, que chegou a ser paralisada por mais de um ano após sanções de Washington, aumentaria a dependência energética do continente europeu em relação à Rússia.

Por que isso importa?

O Nord Stream 2 foi projetado para fornecer gás russo diretamente para a Alemanha através do Mar Báltico, contornando a Ucrânia e a Polônia. Apesar da necessidade europeia de ampliar urgentemente a oferta de gás natural em meio à crise do setor, a obra divide opiniões, com os Estados Unidos encabeçando a oposição.

Os críticos sustentam que o novo gasoduto não é compatível com as metas climáticas europeias, acentua a dependência das exportações russas de energia e potencialmente aumentará a influência exercida pelo presidente Vladimir Putin na região. Já a Rússia e Alemanha defendem a iniciativa como “puramente comercial”, uma forma de atender à crescente demanda por gás no continente.

Por sua vez, Yuriy Vitrenko, CEO da Naftogaz, maior empresa ucraniana de petróleo e gás, acusa a russa Gazprom, que lidera o grupo de investidores do Nord Stream 2, de deliberadamente reter o gás que poderia ir para a Europa, além de bloquear o acesso ao sistema de transporte de gás de outras empresas russas.

A Ucrânia, em particular, contesta a obra e a trata como uma reprimenda política, porque o gasoduto contorna o país e, assim, tira de Kiev os milhões de euros que fatura anualmente como intermediária do fornecimento.

O gasoduto, cuja obra foi concluída em setembro deste ano, integra a estrutura do Nord Stream 1, em operação desde 2011, e é responsável pelo abastecimento de 40% do gás natural consumido pelos alemães. Em funcionamento, o Nord Stream 2 adicionará 55 bilhões de metros cúbicos de suprimento de gás por ano, ou cerca de 11% do consumo total anual da UE – em 2019, os 27 países do bloco usaram 469 bilhões de metros cúbicos.

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