Ao menos 14 crianças estão entre os mais de 60 mortos em naufrágio na costa da Itália

Mais de 20 dos paquistaneses estavam na embarcação, que também levava passageiros somalis, afegãos e iranianos

As autoridades de resgate já registraram 62 mortes no naufrágio de um barco que levava migrantes à Europa e foi localizado no domingo (26) a cerca de 74 quilômetros da costa da Itália. Entre as vítimas estão ao menos 14 crianças, segundo informou nesta segunda-feira (27) a agência Reuters.

A embarcação partiu do porto de Izmir, na Turquia, e naufragou ao se chocar com uma formação rochosa devido ao mau tempo. Ao menos 80 pessoas sobreviveram porque conseguiram nadar até Steccato di Cutro, um balneário na costa leste da Calábria.

Os corpos das vítimas foram levados a um ginásio esportivo na cidade de Crotone, onde aguardam um possível funeral. A população local passou a levar flores e velas ao local, depositando-as na grade que cerca as instalações.

Imigrantes aguardam socorro no Mar Mediterrâneo, em 2019 (Foto: Frontex/Francesco Malavolta)

A expectativa das autoridades é a de que mais corpos sejam encontrados, pois acredita-se que o barco tinha entre 180 e 200 pessoas quando deixou a Turquia. Segundo Shehbaz Sharif, primeiro-ministro do Paquistão, mais de 20 dos passageiros eram paquistaneses. Também havia muitos somalis, afegãos e iranianos entre os migrantes.

De acordo com o Projeto de Migrantes Desaparecidos da ONU (Organização das Nações Unidas), quase 26 mil pessoas morreram tentando atravessar o Mediterrâneo desde 2014, sendo mais de mil crianças.

“Mais recentemente, desde pelo menos meados da década de 1990, milhares de pessoas todos os anos atravessam o Mediterrâneo de barco desde as costas do norte da África e da Turquia para pedir asilo ou migrar para a Europa, caso não possuam a documentação exigida pelos países da destino”, diz o projeto.

Itália dificulta resgate

O acidente foi registrado dias depois de o governo italiano multar um navio operado pela ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) em dez mil euros (R$ 54,5 mil) por ter oferecido ajuda a um grupo de 48 migrantes e refugiados em perigo no Mediterrâneo.

Embarcações de ajuda humanitária habitualmente passam dias no Mediterrâneo para oferecer ajuda a pessoas que tentam chegar à Europa em pequenos barcos, colocando suas vidas em risco. Isso levou o governo italiano a adotar uma lei que prevê punição pesada e quem tentar ajudar os migrantes.

Aprovada em dezembro do ano passado, a legislação em vigor prevê multas de até 50 mil euros aos capitães dos navios que atuarem de forma irregular no resgate. Em caso de reincidência, a embarcação pode ser apreendida.

A ação do governo italiano, comandado pela primeira-ministra de direita Giorgia Meloni, gerou críticas de Volker Turk, alto comissário da ONU (Organização das Nações Unidas) para os direitos humanos. “Esta é simplesmente a maneira errada de lidar com esta crise humanitária”, disse ele.

Até a Igreja Católica entrou no debate, afirmando que as medidas violam o direito internacional e devem ser abandonadas pela Itália.

Dados do governo italiano apontam que 12.667 pessoas chegaram ao país pelo Mediterrâneo neste ano, mais que o dobro do mesmo período de 2022. Já a OIM (Organização Internacional para Migração) diz que ao menos 225 pessoas foram dadas como desaparecidas, presumivelmente mortas, em 2023.

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