Após apelo de oito países, UE avalia possibilidade de limitar circulação de diplomatas russos

Carta ao chefe da política externa do bloco argumenta que a circulação pelo Espaço Schengen facilita 'atividades malignas'

Oito ministros das Relações Exteriores da União Europeia (UE) solicitaram ao bloco que proíba os diplomatas russos de se movimentarem livremente pelo bloco, restringindo sua circulação aos países onde estão credenciados. O pedido foi feito em uma carta enviada a Josep Borrell, chefe da política externa da UE. As informações são da agência Reuters.

Segundo o documento, datado de 11 de junho e acessado pela reportagem, a liberdade de circulação de portadores de passaportes diplomáticos e de serviço russos em todo o Espaço Schengen está facilitando “atividades malignas”.

Os ministros alegaram que um grande número de “diplomatas” russos na UE está principalmente envolvido em atividades de inteligência, propaganda “ou até mesmo na preparação de atos de sabotagem”.

A bandeira da União Europeia no Parlamento Europeu, em Bruxelas, ainda com a estrela do Reino Unido, em junho de 2013 (Foto: European Union/Pietro Naj-Oleari)

Apesar de considerarem as expulsões importantes, afirmaram que a ameaça persiste. “Acreditamos que a UE deve seguir estritamente o princípio da reciprocidade e limitar a circulação dos membros das missões diplomáticas russas e de seus familiares apenas ao território do Estado onde estão acreditados”, declararam.

A carta, assinada pelos ministros da República Tcheca, Dinamarca, Estônia, Letônia, Lituânia, Holanda, Polônia e Romênia, afirma que a restrição de circulação dos diplomatas russos reduzirá significativamente o espaço operacional para os agentes russos.

Mais de 600 expulsões

A espionagem russa é um problema crescente na Europa e está diretamente ligado à diplomacia. Episódios como o envenenamento do ex-agente russo Sergei Skripal, no Reino Unido, afastam cada vez mais as nações do continente de Moscou, um vão diplomático que aumentou com a guerra na Ucrânia.

Nos últimos anos, centenas de diplomatas russos foram expulsos de países europeus sob a acusação de que vinham atuando como espiões disfarçados. Ken McCallum, diretor do MI5, o serviço de inteligência doméstica britânica, calculou em novembro de 2022 que mais de 600 russos haviam sido obrigados a deixar países europeus nessas condições até ali.

“Isso foi o golpe estratégico mais significativo contra os serviços de inteligência russos na história recente da Europa”, disse McCallum na ocasião. “E, junto com ondas coordenadas de sanções, a escalada pegou (o presidente russo Vladimir) Putin de surpresa.”

Somente no Reino Unido, mais de cem pedidos de vistos diplomáticos feitos por Moscou foram rejeitados desde 2018, quando o Skripal e a filha dele, Yulia, foram envenenados em Salisbury, sul da Inglaterra. A inteligência russa foi acusada de coordenar a ação, embora Moscou até hoje negue envolvimento.

As tentativas de assassinato comprometeram as relações diplomáticas entre os governos britânico e russo e levaram à primeira onda de expulsões de diplomatas suspeitos de atuarem como espiões. De lá para cá, diversos países europeus também detectaram membros do corpo diplomático russo que exerciam atividades incompatíveis com suas funções e igualmente os forçaram a ir embora.

Outro país que iniciou uma dura campanha de combate à espionagem russa foi a Alemanha, que vem registrando um aumento considerável das atividades de inteligência de Moscou no país. Nesse sentido, relatório divulgado em junho de 2023 pelo Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), o serviço de inteligência doméstico, destaca as campanhas de desinformação como principal arma russa em solo alemão, embora atos de sabotagem também estejam em alta.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da UE, o que a torna forte influenciadora no bloco e ajuda a explicar o interesse de Moscou pelo país. De acordo com Thomas Haldenwang, que chefia o BfV, há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas.

Nos últimos anos, para conter o problema, o governo alemão também expulsou dezenas de supostos diplomata russos acusados de atuarem como espiões disfarçados. No final de maio do ano passado, Berlim ainda anunciou que quatro dos cinco consulados da Rússia no país teriam suas licenças revogadas, sendo, portanto, fechados.

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