Alemanha ordena o fechamento de quatro dos cinco consulados da Rússia no país

Medida é uma resposta à decisão de Moscou de limitar a 350 o número de membros da missão diplomática alemã em solo russo

O governo da Alemanha anunciou nesta quarta-feira (31) que quatro dos cinco consulados da Rússia no país terão suas licenças revogadas e serão, portanto, fechados. A medida é uma resposta à decisão de Moscou de limitar a 350 o número de membros da missão diplomática alemã em solo russo, segundo a agência Reuters.

A decisão prevê que a embaixada russa em Berlim, além de um consulado-geral, continuem a operar. Os demais serão obrigados a encerrar suas atividades até o final do ano, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores alemão.

Frente do prédio da embaixada russa em Berlim (Foto: WikiCommons)

A medida recíproca também será adotada por Berlim, após a limitação de vagas para membros da missão diplomática. Assim, os consulados em Kaliningrado, Yekaterinburg e Novosibirsk serão fechados, seguindo ativos somente a embaixada da Alemanha em Moscou e o consulado de São Petesburgo, a segunda maior cidade russa.

“Esta decisão injustificada está forçando o governo federal a fazer cortes muito significativos em todas as áreas de sua presença na Rússia”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha nesta quarta.

A medida expõe a profunda crise nas relações entre Alemanha e Rússia, que teve início em 2014 com a anexação da Crimeia por Moscou. Em 2022, após a invasão da Ucrânia por tropas russas, as relações entre os dois países foram praticamente interrompidas, o que já havia levado a uma redução das missões diplomáticas dos dois países.

Em abril do ano passado, Berlim listou 40 russos como “indesejáveis” como resposta às denúncias de um massacre de civis por tropas russas na cidade ucraniana de Bucha. Na ocasião, o governo alemão disse que os diplomatas teriam que deixar o país por atuarem “contra nossa liberdade, contra a coesão de nossa sociedade.”

Espionagem russa

Paralelamente à crise diplomática, episódios de espionagemataques cibernéticos e até ações de sabotagem têm se repetido na Alemanha, invariavelmente atribuídos a agentes russos. O maior temor de Berlim é o de que sua infraestrutura crítica seja alvo de Moscou devido ao apoio do governo alemão à Ucrânia na guerra.

Em junho de 2021, o diretor da Agência para a Proteção da Constituição, Thomas Haldenwang, afirmou que a Rússia possui enorme interesse em Berlim, sobretudo nas “áreas políticas”.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco. Inclusive em questões referentes a Moscou. Haldenwang disse que há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas. “A abordagem está cada vez mais dura e implacável”, afirmou.

Em setembro de 2022, Berlim anunciou que dois funcionários de seu Ministério da Economia estavam sob investigação por suspeita de espionagem em favor da Rússia. Os nomes não foram revelados, apenas que ambos eram responsáveis por questões energéticas sensíveis e teriam ajudado a alimentar o debate pró-Moscou, espalhando críticas ao chanceler Olaf Sholz por suspender o processo de regularização do gasoduto Nord Stream 2.

No início de outubro, a Deutsche Bahn (DB), operadora do sistema ferroviário alemão, foi alvo de uma ação que interrompeu a circulação de trens de carga e de passageiros por cerca de três horas. O Ministério dos Transportes suspeita de sabotagem, vez que cabos essenciais para a segurança do tráfego ferroviário foram deliberadamente cortados.

Naquele mesmo mês, o Ministério do Interior da Alemanha anunciou a demissão de Arne Schoenbohm, que até então chefiava o Departamento Federal de Segurança da Informação. A proximidade com a Rússia levou à decisão.

Há cerca de dez anos, Schoenbohm fundou um grupo de segurança digital que reúne entidades dos setores privado e público. Porém, no ano passado surgiu a denúncia de que uma empresa participante foi fundada por um agente russo, situação que teria sido ignorada pelo chefe do Departamento Federal de Segurança da Informação.

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