Inteligência alemã alerta para o aumento da espionagem por parte de Rússia e China

Relatório destaca campanhas de desinformação russas e ações chinesas para extrair dados industriais, científicos e militares

O governo alemão afirmou nesta semana que as atividades de espionagem da Rússia e da China no país tiveram um aumento considerável no ano passado, tendência de crescimento que deve ser mantida em 2023. A informação consta de um relatório divulgado na terça-feira (20) pelo Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), o serviço de inteligência doméstico da Alemanha. As informações foram reproduzidas pela rede Deutsche Welle (DW).

O documento destaca as campanhas de desinformação russas na Alemanha, que aumentaram em meio à guerra da Ucrânia e ao apoio de Berlim a Kiev contra os invasores russos. A China também foi citada como um dos “principais atores” nas operações de inteligência estrangeira em solo alemão.

Ponte Glienicke, a Ponte dos Espiões, que liga Berlim e Potsdam (Foto: David Stanley/Flickr)

“A guerra da Rússia contra a Ucrânia também significa um ponto de virada para a segurança interna”, disse a ministra do Interior Nancy Faeser no prefácio do relatório. “Especialmente em tempos de guerra, a liderança do Kremlin conta com o trabalho dos serviços de inteligência russos.”

Thomas Haldenwang, que chefia o BfV, listou os “perigos para a segurança interna da Alemanha” citados no documento. “Espionagem, operações cibernéticas e tentativas de serviços de inteligência estrangeiros de exercer influência tornaram-se mais desenfreadas e sofisticadas”, afirmou.

Se a desinformação é a principal estratégia russa para semear discórdia na Alemanha, o foco da China é principalmente na coleta de informações sobre a indústria e as instituições científicas e militares alemãs.

“Em 2022, supostos agentes chineses estatais ou dirigidos pelo Estado continuaram a perpetrar ataques cibernéticos direcionados contra empresas, agências governamentais e indivíduos, bem como contra instituições políticas”, diz o relatório.

Problema antigo

Em junho de 2021, Haldenwang já havia alertado para o aumento das atividades de inteligência russas na Alemanha, que segundo ele atingiram níveis semelhantes aos dos tempos de Guerra Fria. Berlim vem prestando atenção especial aos casos de sabotagem, pois teme que sua infraestrutura crítica seja alvo de agentes russos.

Em setembro de 2022, Berlim anunciou que dois funcionários de seu Ministério da Economia estavam sob investigação por suspeita de espionagem em favor da Rússia. Os nomes não foram revelados, apenas que ambos eram responsáveis por questões energéticas sensíveis e teriam ajudado a alimentar o debate pró-Moscou, espalhando críticas ao chanceler Olaf Sholz por suspender o processo de regularização do gasoduto Nord Stream 2.

No início de outubro, a Deutsche Bahn (DB), operadora do sistema ferroviário alemão, foi alvo de uma ação que interrompeu a circulação de trens de carga e de passageiros por cerca de três horas. O Ministério dos Transportes suspeita de sabotagem, vez que cabos essenciais para a segurança do tráfego ferroviário foram deliberadamente cortados.

Naquele mesmo mês, o Ministério do Interior da Alemanha anunciou a demissão de Arne Schoenbohm, que até então chefiava o Departamento Federal de Segurança da Informação. A proximidade com a Rússia levou à decisão.

Há cerca de dez anos, Schoenbohm fundou um grupo de segurança digital que reúne entidades dos setores privado e público. Porém, no ano passado surgiu a denúncia de que uma empresa participante foi fundada por um agente russo, situação que teria sido ignorada pelo chefe do Departamento Federal de Segurança da Informação.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco e ajuda a explicar o interesse de Moscou pelo país. De acordo com Haldenwang, há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas. “A abordagem está cada vez mais dura e implacável”, afirmou ele há dois anos.

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