Após nova derrota na Ucrânia, dois importantes aliados de Putin ridicularizam as tropas da Rússia

Ramzan Kadyrov pediu punição aos comandantes russos e disse que enviará os próprios filhos, todos adolescentes, para lutar na guerra

A reconquista pelas tropas ucranianas da cidade de Lyman, em Donetsk, uma das regiões recentemente anexadas pela Rússia, gerou críticas ao desempenho das tropas de Moscou feitas por dois importantes aliados do presidente Vladimir Putin: o líder checheno Ramzan Kadyrov e o empresário Evgeny Prigozhin, este o fundador da organização paramilitar Wagner Group.

Kadyrov não apenas contestou o desempenho dos soldados russos na guerra como sugeriu que Putin use armas nucleares táticas para neutralizar posições ucranianas. “Na minha opinião pessoal, medidas mais drásticas deveriam ser tomadas, até a declaração da lei marcial nas áreas de fronteira e o uso de armas nucleares de baixo rendimento”, disse ele, segundo o jornal independente The Moscow Times.

Ele contestou o que chamou de “nepotismo no exército” e sugeriu que os comandantes das forças russas na área de Lyman perdessem suas medalhas e fossem enviados à linha de frente para combater ao lado dos soldados, de acordo com a agência Reuters.

Putin e Kadyrov: aliança colocada à prova com o fracasso russo na Ucrânia (Foto: Kremlin/Divulgação)

O líder checheno foi além e afirmou que enviará seus filhos adolescentes, Akhmat, de 16 anos, Eli, 15, e Adam, 14, ao campo de batalhas. “Eles irão em breve para a linha de frente e estarão nas seções mais difíceis da linha de contato”, disse ele, direcionando a promessa a “falastrões que alegaram que meus entes queridos não estavam participando da operação militar especial”.

Esta não foi a primeira crítica de Kadyrov dirigida às forças armadas russas. Quando a Ucrânia iniciou sua contraofensiva e reconquistou milhares de quilômetros quadrados de território, no início de setembro, ele afirmou que “erros foram cometidos” e que era necessário que os militares russos tirassem “algumas conclusões” da derrota.

O Kremlin se manifestou e afirmou que as críticas mais recentes do líder checheno foram feitas em um “momento carregado de emoção”, de acordo com o porta-voz Dmitry Peskov. “Os chefes das regiões têm o direito de expressar seu ponto de vista”, disse ele, antes de advertir: “Mesmo em momentos difíceis, as emoções ainda devem ser excluídas de qualquer avaliação”.

Kadyrov disse, ainda, que chegou a alertar o chefe do Estado-Maior da Rússia, Valery Gerasimov, sobre os riscos de uma derrota. Entretanto, o terceiro homem mais poderoso das forças armadas do país, atrás de Putin e do ministro da Defesa Sergei Shoigu, teria descartado a possibilidade.

As críticas chegaram aos ouvidos de Prigozhin, que apenas recentemente admitiu ter sido o fundador do Wagner Group, cujos mercenários se aliaram às tropas russas na Ucrânia. E ele assinou embaixo. “Ramzan, você arrasa, cara!”, disse o empresário do setor gastronômico, conhecido como “chef de Putin” devido aos muitos contratos que tem para fornecer refeições ao governo.

“Todos esses bastardos devem ser enviados descalços para a frente com armas automáticas”, disse Prigozhin, segundo quem tais palavras não foram direcionadas ao Ministério da Defesa. “Deus me livre. Essas declarações não são críticas, mas apenas uma manifestação de amor e apoio”.

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