Centenas desafiam a repressão e protestam em apoio a ativista preso na Rússia

Pelo menos dez pessoas foram presas na República do Bascortostão, perto da fronteira entre a Europa e a Ásia

Centenas de manifestantes se aglomeraram nesta sexta-feira (19) na cidade de Ufa, capital da República do Bascortostão, na Rússia, em um grande protesto contra a prisão do proeminente ativista basquir Fayil Alsynov. Ele foi recentemente condenado a quatro anos de prisão por supostamente “incitar o ódio interétnico”, acusação que nega, segundo reportagem do site independente The Moscow Times.

Informações reproduzidas da agência de notícias independente SOTAvision indicam que cerca de 1,5 mil pessoas se reuniram na Praça Salawat Yulayev, entoando cânticos e exigindo a libertação imediata de Alsynov. Uma cena incomum devido à dura repressão estatal no país, onde protestar tornou-se ainda mais difícil desde o início da guerra da Ucrânia, com penas mais duras contra quem ousa se posicionar criticamente em público ou pela internet.

Alsynov é um ativista conhecido na região por sua defesa da preservação ambiental, identidade étnica e língua basquir. Na quarta-feira (17), ele foi condenado a quatro anos de prisão, desencadeando protestos em sua defesa. Anteriormente, ele ocupou o cargo de vice-presidente da organização nacionalista Bashkir Kuk-Bure e liderou a organização pública Bashkort.

Polícia de choque russa em ação durante protesto ocorrido em 2019 em São Petersburgo (Foto: WikiCommons)

A polícia de choque cercou a área antes do início do protesto, alertando os manifestantes pelo alto-falante que seriam detidos por participarem de “um ato não autorizado”. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostraram policiais prendendo vários manifestantes e os conduzindo para camburões.

Pelo menos 10 pessoas foram detidas até o término do protesto, às 13h, horário local, conforme relatado pela mídia independente.

Além disso, surgiram relatos de falhas nos aplicativos WhatsApp e Telegram na região, com várias fontes em Bascortostão confirmando ao The Moscow Times que nenhum dos dois serviços parecia funcionar para eles até o início da noite.

Em meio aos atos, o Ministério do Interior de Bascortostão iniciou dois processos criminais relacionados aos protestos em Baymak, onde Alsynov foi condenado. Autoridades alertam que os participantes podem pegar até 15 anos de prisão por “organizar e participar de tumultos em massa” e até 10 anos por “violência contra funcionário público”.

Em Ufa, um tribunal sentenciou seis manifestantes a 13 dias de prisão por violar regras de protesto. O Kremlin, ao comentar sobre os protestos, tentou minimizar, afirmando que não considera os eventos como “tumultos em massa” ou “protestos em massa”, destacando que são assuntos locais e de aplicação da lei.

Ativismo basquir

Os seguidores de Alsynov alegam que as autoridades estão retaliando contra ele por frustrar os projetos de mineração do Monte Kushtau, agora designado como uma reserva natural. Em 2023, o tribunal o considerou culpado de incitar ódio durante uma manifestação contra a mineração de ouro na região do Volga, resultando em sua condenação a quatro anos de prisão.

Em relação à invasão russa na Ucrânia, ele condenou a mobilização militar, descrevendo-a como um genocídio contra o povo basquir.

Os Basquires, também conhecidos como Bashkurts, são um grupo étnico turco indígena da Rússia concentrados no Bascortostão.

A maioria dos Basquires fala a língua Bashkir, que é parecida com as línguas Tatar e Cazaque. Essas línguas fazem parte do grupo Kipchak das línguas turcas. Além disso, os Basquires têm ligações históricas e culturais com outros povos turcos.

Em relação à religião, a maioria dos Basquires seguem o islamismo, sendo predominantemente muçulmanos sunitas.

Tags: