Em uma tentativa drástica de combater o declínio populacional, os habitantes da região de Nizhny Novgorod, na Rússia, passarão a receber um milhão de rublos (cerca de R$ 61,9 mil) por cada filho nascido a partir do próximo ano. O governador Gleb Nikitin anunciou a medida, que reflete a preocupação crescente com a queda na taxa de natalidade do país. As informações são da Newsweek.
Segundo o think tank Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês), o pagamento virá de fundos federais para o primeiro e o segundo filho e de recursos regionais para o terceiro e o quarto. Os detalhes sobre os critérios de elegibilidade ainda não foram divulgados.

A taxa de natalidade da Rússia atualmente é de apenas 1,5 filhos por mulher, muito abaixo dos 2,1 necessários para sustentar a população. Esse índice, aliado às pesadas baixas resultantes da guerra na Ucrânia, resultou em um declínio populacional significativo. Em setembro, a taxa de natalidade russa atingiu seu nível mais baixo em 25 anos.
Uma resposta controversa a um desafio histórico
A política demográfica russa não é uma novidade. Nos últimos anos, diversas iniciativas pouco convencionais foram propostas para incentivar a natalidade, como a ideia de criar um “ministério do sexo” e programas para pagar estudantes do sexo feminino entre 18 e 23 anos para terem filhos. As novas medidas são parte de uma “Estratégia de Ação” para políticas familiares e demográficas, que visa promover os valores tradicionais da família russa.
Entre os objetivos da estratégia estão “proteger, apoiar e defender a família como base fundamental da sociedade russa” e “fortalecer a instituição da família e do casamento como uma união entre um homem e uma mulher”. A presidente do Conselho da Federação, Valentina Matvienko, foi designada por Vladimir Putin para liderar a implementação das medidas, que ocorrerá em duas etapas: de 2025 a 2030 e de 2031 a 2036.
Desafios sociais
A Rússia espera que, até 2030, a taxa de natalidade aumente para 1,6 filhos por mulher e atinja 1,8 até 2036. O plano também prevê uma queda nas taxas de mortalidade infantil e o aumento da expectativa de vida. Para isso, serão promovidos o “estilo de vida familiar” por meio da mídia e da publicidade e ampliados os recursos para apoiar as famílias.
O declínio demográfico foi descrito pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, como um “enorme desafio”. Ele destacou que as novas políticas são cruciais para transformar a Rússia em um país “super forte”.
Em uma declaração controversa, o ministro da Saúde, Yevgeny Shestopalov, encorajou os cidadãos a “se envolverem em procriação durante os intervalos no trabalho”. Segundo ele, “estar ocupado no trabalho não é uma desculpa válida para não começar uma família. A vida passa rápido”.
Por que isso importa?
A comparação entre a taxa de mortalidade no campo de batalha e a taxa de natalidade masculina ressalta um cenário alarmante para a demografia russa. O país já enfrenta uma crise de natalidade, com nascimentos em queda constante nos últimos anos. A taxa de fertilidade russa está em 1,5 filho por mulher, bem abaixo da taxa de 2,1 necessária para manter a população estável. Essa tendência tem sido atribuída, em parte, ao impacto do conflito.
Em resposta à baixa natalidade, o governo russo lançou iniciativas para incentivar nascimentos, incluindo pagamentos às mulheres que tiverem filhos. Em algumas regiões, como Khabarovsk, o governo oferece até 110 mil rublos russos (R$ 6,5 mil) para jovens de 18 a 23 anos que decidam ter um filho. Em outras localidades, como Chelyabinsk, o incentivo para o primeiro filho pode chegar a 1 milhão de rublos russos.
Além dos incentivos financeiros, o governo tem proposto outras medidas para reverter a queda demográfica. Uma das ideias discutidas inclui apoiar financeiramente a noite de núpcias dos casais recém-casados, com o objetivo de promover o aumento das taxas de gravidez.
Em um tom polêmico, um ministro regional de saúde sugeriu que as mulheres deveriam considerar “procriar nos intervalos de trabalho”, afirmando que a falta de tempo não deveria ser um obstáculo para o aumento da população. Em outro caso extremo, membros da Duma sugeriram liberar mulheres presas para terem filhos, com a possibilidade de reduzir suas penas em troca da contribuição para a natalidade nacional.
Essa combinação de fatores reflete a urgência da Rússia em buscar soluções para um desafio que vai além da guerra atual. A crise demográfica afeta não só as perspectivas de reposição populacional, mas também representa um alerta sobre os impactos a longo prazo de um conflito prolongado, que segue cobrando um alto preço em vidas e, ao mesmo tempo, reduzindo o crescimento da população jovem.
Moscou, entretanto, não divulga estatísticas sobre mortes na guerra nem confirma os números anunciados por Kiev. Assim, o levantamento mais confiável é feito em parceria pela rede BBC e o site investigativo Mediazona. Os investigadores consideram apenas casos em que é possível identificar os combatentes pelo nome, e até 7 de novembro registraram 77.143 russos mortos.