‘Confissão’ de jornalista na Crimeia pode ter sido forçada por tortura, alerta RSF

Forças da Rússia detiveram Vladislav Yesypenko por espionagem; em vídeo, jornalista apresenta dificuldade para falar

A organização RSF (Repórteres Sem Fronteiras) alertou na sexta (26) que a “confissão” televisionada do jornalista ucraniano Vladislav Yesypenko, na Crimeia, pode ter sido forçada após tortura.

Yesypenko foi detido no dia 10 pelo FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia) sob suspeita de espionagem. Ele trabalhava na região da Crimeia, anexada à Rússia de forma unilateral em 2014.

O jornalista é um colaborador autônomo do portal de notícias regional RFE (Radio Free Europe). Na “confissão”, transmitida pela emissora Krym24 no dia 18, o profissional estava visivelmente pálido e com dificuldade para falar.

'Confissão' de jornalista da Crimeia pode ter sido forçada por tortura, alerta RSF
O jornalista ucraniano Vladislav Yesypenko no momento da sua ‘confissão’ de espionagem, televisionada, em 18 de março de 2021 (Foto: Reprodução/Krim24)

“Foi uma confissão certamente obtida sob coação”, disse Jeanne Cavelier, chefe da RSF para a Europa Oriental e Ásia Central. Conforme o FSB, Yesypenko coletava informações para a inteligência ucraniana do território anexado.

Autoridades russas também dizem ter encontrado um “dispositivo explosivo” em seu automóvel durante a apreensão. O jornalista da Crimeia foi acusado de fabricar armas de fogo – crime que prevê até seis anos de prisão.

O Serviço de Inteligência da Ucrânia descreveu a prisão como uma “tentativa conveniente” de desviar a atenção da população aos numerosos problemas da península. Em 18 de março, a anexação forçada completou o seu sétimo aniversário.

Relatos

Na última terça (23), o site ucraniano Graty citou o relato de um agente carcerário baseado no mesmo local de detenção de Yesypenko. O homem, que não foi identificado, diz ter testemunhado sessões de tortura do jornalista.

Já o grupo de direitos humanos CHRG (Crimean Human Rights Group) denunciou que o advogado escolhido para defender Yesypenko não teve permissão para vê-lo. “Isso sugere que as autoridades tentam encobrir métodos ilegais de investigação, incluindo violência física e psicológica”, disse a entidade.

Yesypenko já havia sido detido ao participar das celebrações ao 207º aniversário do poeta e pensador ucraniano Taras Shevchenko.

Moscou anexou à força a península da Crimeia em março de 2014 após a deposição do então presidente ucraniano Viktor Yanukovych, apoiado pelo Kremlin. Desde então, instituições de direitos humanos denunciam a resposta agressiva da Rússia aos ativistas e civis da região.

O governo russo também apoia os separatistas que enfrentam as forças do governo da Ucrânia na região leste do país desde abril de 2014. O conflito já matou mais de 13 mil pessoas.

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