A Procuradoria-Geral da Rússia solicitou na segunda-feira (31) que a Suprema Corte do país suspenda oficialmente a designação do Taleban como organização terrorista, informou a imprensa russa. O julgamento ocorrerá a portas fechadas no dia 17 de abril, mas a decisão é considerada praticamente certa diante da reaproximação entre Moscou e o grupo islâmico que governa o Afeganistão. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).

Apesar de estar na lista russa de grupos banidos desde 2003, o Taleban tem recebido tratamento diferenciado nos últimos anos. Representantes da organização participaram de reuniões em solo russo, e em julho de 2023 o presidente Vladimir Putin chegou a afirmar que o grupo agora é um aliado no combate ao terrorismo, principalmente por sua luta contra o Estado Islâmico do Khorasan (EI-K), facção jihadista rival ativa no Afeganistão.

A aproximação ganhou impulso após a retirada dos EUA do Afeganistão, em 2021, e foi institucionalizada em dezembro do ano passado, quando o parlamento russo aprovou uma lei que permite suspender o banimento de grupos classificados como terroristas. A nova norma autoriza essa suspensão com base em um pedido da Procuradoria e na avaliação de que a organização deixou de praticar atos terroristas, segundo o Serviços de Segurança Federal (FSB).

O possível fim do banimento, no entanto, não significa o reconhecimento formal do governo do Taleban nem do autodenominado “Emirado Islâmico do Afeganistão”. Nenhum país até agora reconheceu oficialmente o regime que assumiu o poder em agosto de 2021, após a saída das tropas ocidentais. Ainda assim, diversos países da região, como o Cazaquistão, já removeram o grupo de suas próprias listas de organizações terroristas.

Desde que assumiu o controle do Afeganistão, o Taleban impôs uma rígida interpretação da sharia, que resultou em severas restrições às mulheres, efetivamente excluídas da vida pública. Apesar disso, líderes do grupo mantêm conversas bilaterais com potências da região, inclusive aliados de Moscou na Ásia Central, além de contatos recentes com os EUA, que vêm ocorrendo sob a mediação do governo de Donald Trump.

A Procuradoria russa sustenta que a mudança no status jurídico do Taleban reflete a nova realidade política e de segurança no Afeganistão. “O pedido é baseado na constatação de que o grupo cessou atividades consideradas terroristas”, declarou o órgão, em nota à imprensa local.