Rússia inicia processo para desclassificar o Taleban como organização terrorista

Governo russo mantém diálogo com os radicais afegãos e é um dos poucos a sustentar uma embaixada ainda ativa em Cabul

A Rússia anunciou nesta terça-feira (2) que está empenhada em manter diálogo com os líderes talibãs e está explorando a possibilidade de retirar o grupo insurgente que tomou o poder central do Afeganistão em 2021 de sua lista de organizações terroristas proibidas. As informações são da agência Reuters.

A informação de que o Ministério das Relações Exteriores, juntamente com o Ministério da Justiça e outros órgãos do Estado russo estão pensando em tirar o título de “terrorista” do movimento Taleban foi dada pelo departamento responsável pela diplomacia russa à agência de notícias TASS. No entanto, a decisão final cabe ao presidente russo, Vladimir Putin.

Em coletiva de imprensa, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou: “Este é um país que está próximo a nós e, de uma forma ou de outra, nos comunicamos com eles. Precisamos resolver questões urgentes, o que também requer diálogo, portanto, nesse sentido, nos comunicamos com eles como praticamente todo mundo – eles são a autoridade de fato no Afeganistão.”

Após o colapso do governo afegão, poder foi totalmente preenchido por um Taleban ainda mais radical (Foto: WikiCommons)

A Rússia é um dos poucos países a manter uma Embaixada ativa em Cabul desde a ascensão do Taleban ao poder. Embora Moscou não tenha reconhecido oficialmente os radicais como governantes de direito do país, mantém negociações com os talibãs para fornecer gasolina e outras commodities ao Afeganistão.

Peskov não detalhou as “questões urgentes”, porém, Moscou enfrentou recentemente o pior ataque em duas décadas. No último dia 22, homens armados invadiram a casa de espetáculos Crocus City Hall, em Moscou, deixando pelo menos 144 pessoas mortas. O atentado foi reivindicado pelo Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), atualmente a mais violenta das facções do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria.

A Rússia, por sua vez, está investigando uma possível conexão com a Ucrânia, uma alegação fortemente negada por Kiev e por Washington.

Promessas

Em outubro de 2021, poucos meses após os insurgentes terem assumido o controle de Cabul, Putin declarou que a Rússia estava considerando a possibilidade de retirar os talibãs da lista de organizações terroristas, embora tenha enfatizado que a iniciativa deveria partir da Organização das Nações Unidas (ONU), segundo o jornal Expresso.

Durante seu discurso na reunião anual do clube de debates Valdai, em Sochi, o chefe do Kremlin enfatizou que Moscou “está seguindo nessa direção”.

“Todos esperamos que essas pessoas, os talibãs, que agora – sem dúvida – controlam a situação no Afeganistão, façam com que a situação evolua positivamente”, acrescentou.

À época, Putin afirmou que, caso os talibãs cumprissem suas promessas, incluindo a formação de um governo inclusivo, respeito pelos direitos humanos, combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas, Moscou “tomaria a decisão sobre sua retirada da lista de organizações terroristas”. No entanto, nada disso ocorreu e o país está cada vez mais afundado em uma crise humanitária.

Desde que a nova ordem começou a ganhar forma no começo de julho de 2021 no Afeganistão, com o esvaziamento da base militar de Bagram, que durante vinte anos foi o centro do poder militar dos EUA e de seus aliados no Oriente Médio, o país enfrenta uma grave crise humanitária, com mais de 28 milhões de pessoas – dois terços da população – necessitando urgentemente de ajuda. A ONU (Organização das Nações Unidas) relatou que quatro milhões de pessoas sofrem com desnutrição aguda, incluindo 3,2 milhões de crianças menores de 5 anos.

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