O Taleban, que desde agosto de 2021 retomou o governo de fato do Afeganistão, pediu à Rússia para ser convidado a participar da próxima cúpula do BRICS, que acontecerá na cidade de Kazan entre os dias 22 e 24 de outubro. Até o momento, entretanto, Moscou não divulgou uma decisão a respeito, segundo informa a rede Voice of America (VOA).
“O BRICS é um fórum econômico importante e, como uma economia em desenvolvimento, o Afeganistão precisa participar de tais encontros econômicos”, afirmou Hamdullah Fitrat, porta-voz adjunto do Taleban em mensagem de vídeo. “O Emirado Islâmico está buscando uma presença no próximo fórum do BRICS, e o pedido foi formalmente comunicado à nação anfitriã”, acrescentou, citando a nomenclatura usada pelos radicais para se referir ao país.
Embora exerçam o poder de fato no Afeganistão, os talibãs não contam com reconhecimento formal de nenhuma nação. A própria Rússia não trata os radicais como legítimos governantes, apesar de os dois países terem iniciado uma aproximação lenta desde agosto de 2021.
Moscou afirmou em abril deste ano que está empenhada em manter diálogo com os líderes talibãs e que inclusive explora a possibilidade de retirar o grupo de sua lista de organizações terroristas proibidas. À época, o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov comentou a relação entre Rússia e Afeganistão e admitiu uma aproximação.
“Este é um país que está próximo a nós e, de uma forma ou de outra, nos comunicamos com eles. Precisamos resolver questões urgentes, o que também requer diálogo. Portanto, nesse sentido, nos comunicamos com eles como praticamente todo mundo. Eles são a autoridade de fato no Afeganistão”, disse Peskov na oportunidade.
O fórum do BRICS para o qual o Afeganistão espera um convite envolverá os cinco membros que dão nome do bloco, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Também participarão Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos, que se associaram recentemente.
O isolamento afegão
Questões de direitos humanos representam o maior obstáculo à reinserção do Afeganistão na comunidade internacional. Sobretudo a repressão imposta às mulheres, que é classificada por muitos países e entidades humanitárias como apartheid de gênero.
As restrições às afegãs incluem a proibição de estudar, trabalhar e sair de casa sem a presença de um homem. Isso resulta na perda de emprego para muitas mulheres no país, contribuindo assim para o empobrecimento da população em geral.
A situação tornou-se ainda mais difícil nas últimas semanas, após a imposição de um pacote de regras anunciado em agosto que proíbe uma série de atividades, incluindo o uso de transporte público, a execução de música e a realização de celebrações.
Entre as rígidas regras impostas, o artigo 13 exige que as mulheres cubram todo o corpo, incluindo o rosto, em público para evitar “tentação”. Elas não podem usar roupas que sejam transparentes, apertadas ou curtas. Além disso, devem se cobrir completamente, mesmo na frente de pessoas que não sejam muçulmanas, para prevenir “corrupção”.
As novas leis consideram até a voz da mulher algo “íntimo demais” para ser ouvido em espaços públicos, o que na prática as proíbe de cantar, declamar ou ler em voz alta. Elas também estão proibidas de olhar para homens que não sejam seus familiares próximos, assim como os homens não podem olhar para mulheres que não sejam suas parentes.
O documento, com 114 páginas e 35 artigos, é a primeira declaração oficial de leis sobre vícios e virtudes desde que o Taleban retornou ao poder em 2021, representando um passo importante na institucionalização de sua interpretação da lei islâmica.