Crise do coronavírus pode ser pior que o pós-comunismo na Europa oriental

Dependência de exportações e turismo, combinadas a baixo espaço de manobra fiscal paralisam recuperação

A recessão causada pela pandemia do novo coronavírus na Europa oriental deve ser semelhante a dos anos de transição do comunismo para o capitalismo. As informações são da revista britânica “The Economist”. 

A avaliação foi feita pelo economista Richard Grieveson, do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais de Viena. Entre 1989 e 1994, a queda no PIB dos países do lado de lá da cortina de ferro foi de 40% ao ano.

A região ainda é muito dependente de exportações: proporcionalmente, representam 96% do PIB da Eslováquia, 85% na Hungria e 67% na Bulgária – para comparação, os bens e serviços vendidos ao exterior representam cerca de 35% da economia espanhola.

Crise do coronavírus pode ser pior que o pós-comunismo na Europa oriental
Distribuição de óleo de cozinha perto de Bucareste, na Romênia, em 1986 (Foto: Wikimedia Commons)

A Europa do leste também depende muito do turismo. A revista britânica usa o exemplo da Croácia, onde um quarto do PIB vem do setor. Com a paralisação do fluxo de turistas, o impacto econômico imediato é grave.

Outro problema é de ordem fiscal. Com menos recursos em caixa, essas nações têm menor espaço para criar pacotes de resgate e de estímulo econômico.

Tomar empréstimos do exterior para financiar a recuperação também é mais difícil. Basta observar as notas dessas nações nas principais agências de gestão de risco, bastante inferiores a seus pares na Europa ocidental. 

A nota concedida pelas agências influencia diretamente custos desses empréstimos, resultando em captação mais cara para os países que mais precisam.

Problemas e soluções

Entre as saídas para diminuir os efeitos da crise estão nichos como o de “nearshoring”. O termo define a transferência de parcela da produção da Europa ocidental de países asiáticos para nações pobres mais próximas.

Nos próximos anos, pode crescer o número de call centers e armazéns no leste europeu – forma de diminuir a chance de uma ruptura na cadeia de serviços dos países ricos por excessiva dependência da China e outras regiões da Ásia.

O coronavírus atingiu de forma heterogênea o continente europeu: o sul, mais que o norte. O leste, menos que o oeste. Na Espanha, o número de mortes foi de uma razão de três para um ante seu vizinho Portugal. Na França, quatro vezes mais pessoas morreram do que na Alemanha. 

Do ponto de vista econômico, todo o continente foi afetado e teve a pior retração econômica da série histórica da UE, de 3,5% no trimestre. A desaceleração da atividade econômica foi de aterradores 30% no bimestre de março e abril, na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Para este ano, a Comissão Europeia estima diminuição de 7,5% no PIB de toda a União. O banco norte-americano Morgan Stanley é mais pessimista: a economia da zona do euro vai desacelerar em 11% em 2020.

Países do leste da Europa, que tiveram menor número de casos, já começam a reabrir as portas de comércios e áreas públicas após restritivo lockdown. Segundo a revista britânica, a política desses países foi voltada para resguardar o sistema de saúde de um colapso como o italiano ou o espanhol. 

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