Crise na Bósnia: líderes sérvios desafiam UE e EUA com bloqueio político

Parlamento da Republika Srpska desafia ordens internacionais, aprofundando tensões políticas e ameaçando estabilidade na região

Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) condenaram, no último dia 25, a decisão de líderes sérvios étnicos na Bósnia e Herzegovina de bloquear avanços no processo de integração europeia do país. A ação partiu do parlamento da Republika Srpska, a entidade majoritariamente sérvia do país, que no dia 24 instruiu seus representantes nas instituições estatais a paralisarem decisões necessárias para a adesão à UE. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Em resposta, as embaixadas dos EUA, Reino Unido, França, Alemanha e Itália, juntamente com a delegação da UE na Bósnia, emitiram uma declaração conjunta classificando as ações como “uma séria ameaça à ordem constitucional do país”.

No texto, os representantes internacionais enfatizaram que o momento era inoportuno para tais medidas: “Num momento em que a abertura formal das negociações de adesão à UE nunca esteve tão próxima, um retorno a bloqueios políticos teria consequências negativas para todos os cidadãos, a maioria dos quais apoia a adesão à UE.”

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o ex-primeiro-ministro da Bósnia-Herzegovina, Zoran Tegeltija (Foto: WikiComons)

O movimento do parlamento sérvio ocorre em meio ao julgamento de Milorad Dodik, líder da Republika Srpska, que enfrenta acusações de não cumprimento de decisões do Alto Representante Internacional na Bósnia. Caso seja condenado, ele poderá pegar até cinco anos de prisão e ser banido da política, já estando sob sanções dos EUA e do Reino Unido por supostas ações que, segundo governos ocidentais, visam a secessão da Republika Srpska.

Dodik e seus aliados alegam que o processo é político e que as decisões do Alto Representante Christian Schmidt, incluindo a criação do tribunal que julga o caso, são ilegais por não respeitarem o acordo de Dayton, que encerrou a guerra da Bósnia (1992-1995). Para eles, o tribunal estaria usurpando competências que caberiam ao próprio acordo.

A situação na Bósnia

O sistema político da Bósnia-Herzegovina foi estabelecido pelos Acordos de Dayton, criando duas entidades semiautônomas: a Federação Bósnio-Croata e a Republika Srpska, unidas por um governo central de poderes limitados. No entanto, as tensões entre as duas entidades têm se intensificado nos últimos anos, com Dodik frequentemente defendendo um status mais independente para a Republika Srpska.

Apesar de negar publicamente intenções de secessão, Dodik defende que sua entidade tem o direito de lutar politicamente por seu status dentro do acordo de Dayton. Ele também já usou termos como “desassociação” para descrever os objetivos da Republika Srpska, o que, segundo Washington, equivale a “secessão disfarçada”.

A crise atual, alimentada pelo julgamento de Dodik e pelas recentes ações parlamentares, aprofunda o isolamento da Republika Srpska no cenário internacional. Especialistas alertam que essas medidas podem atrasar ainda mais o processo de integração da Bósnia à UE e aumentar as tensões internas.

A proximidade de Dodik com o presidente russo, Vladimir Putin, também gera preocupação no Ocidente, que vê na situação da Bósnia um reflexo das disputas geopolíticas mais amplas entre Rússia e Europa.

Tags: