Cruz Vermelha pede saída do chefe da filial de Belarus por remoção de crianças ucranianas

Dzmitry Shautsou exaltou o envio dos menores de áreas invadidas para o território belarusso, o que pode configurar genocídio

A Cruz Vermelha Internacional pediu na quarta-feira (4) a remoção do líder da filial de Belarus, que causou indignação por se orgulhar do envio de crianças ucranianas de áreas controladas pela Rússia no país invadido para a ex-república soviética, violação que pode configurar genocídio. As informações são da agência Associated Press.

O Conselho da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha (IFRC, na sigla em inglês) e do Crescente Vermelho estabeleceu um prazo até 30 de novembro para a filial de Belarus remover o secretário-geral Dzmitry Shautsou de seu cargo. Caso contrário, a unidade enfrentará a suspensão de suas atividades e a recomendação de suspensão de parcerias e financiamento por parte de outras afiliadas.

As crianças chegaram a Belarus no dia 19 de setembro, e entre elas estavam 44 que vieram das cidades do leste da Ucrânia de Lysychansk e Sevierodonetsk. Essas cidades estão sob ocupação desde julho de 2022 e estão localizadas perto da linha de frente desde que o presidente russo, Vladimir Putin, enviou tropas para o território ucraniano há mais de 19 meses.

Criança em Donetsk (Foto: UNICEF Ukraine/Flickr)

Em 2022, a Cruz Vermelha de Belarus recebeu cerca de US$ 1,9 milhão da organização internacional com sede em Genebra. Esse financiamento foi destinado a serviços como prevenção do HIV, assistência a migrantes próximos à fronteira com a Polônia, atividades de “terapia de palhaços” (abordagem terapêutica que envolve a interação de palhaços profissionais com pacientes, principalmente crianças, em ambientes de cuidados de saúde) e ajuda a pessoas que fugiam da vizinha Ucrânia. Neste ano, o gasto já ultrapassou US$ 1,1 milhão.

Shautsou enfrenta acusações de violação da neutralidade e integridade da Cruz Vermelha. Ele foi visto em público vestindo uniformes militares com a letra “Z”, símbolo extraoficial das forças russas para a guerra, e manifestou publicamente seu apoio à implantação de armas nucleares por Minsk.

Yulia Sytenkova, porta-voz da Cruz Vermelha de Belarus, informou que a filial está analisando a decisão e que uma resposta será dada em breve.

Enquanto isso, a oposição belarussa pede que o presidente Alexander Lukashenko e todos os envolvidos na transferência de crianças da Ucrânia sejam responsabilizados legalmente por essas ações. Pavel Latushka, líder da oposição e ex-ministro do governo, afirmou que apresentou documentos ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que comprovam a ocorrência de transferências ilegais de crianças ucranianas para Belarus.

Há também apelos tanto da oposição a Lukashenko quanto de Kiev para que o líder belarusso enfrente acusações de crimes de guerra internacionais, semelhantes às acusações contra seu homólogo russo Vladimir Putin.

Anteriormente, Dmytro Kuleba, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, instou o TPI a emitir um mandado de prisão contra Shautsou, como fez com Putin e Maria Alekseyevna Lvova-Belova, Comissária para os Direitos da Criança no gabinete do líder russo. Ambos são acusados de cumplicidade na deportação e transferência ilegais de crianças de áreas da Ucrânia ocupadas para a Rússia.

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