Em meio ao aquecimento das discussões sobre segurança global e orçamento militar, membros europeus da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) consideram um aumento histórico na meta de gastos com defesa, passando do atual piso de 2% do PIB (produto interno bruto) nacional para 3% até 2030. A medida, debatida em encontros recentes da aliança, reflete tanto a pressão dos Estados Unidos sob o novo governo de Donald Trump quanto a necessidade de reforçar capacidades diante da guerra na Ucrânia e das ameaças da Rússia. As informações são d0 jornal Financial Times.
Desde 2018, quando em seu mandato anterior Trump pressionou os aliados a aumentarem seus gastos, a Otan observou um crescimento significativo nos investimentos. Dos 32 países-membros, 23 atingiram o atual patamar de 2% do PIB em 2023, embora outros, como Itália e Espanha, sigam abaixo da meta estabelecida há uma década. Embora alguns considerem elevar o piso, para muitos governos europeus isso poderia agravar tensões fiscais já críticas.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, enfatizou a necessidade de uma revisão das metas durante uma entrevista recente. “Com 2%, não é possível alcançar as capacidades necessárias”, afirmou, defendendo que a segurança deve ser uma prioridade, mesmo diante de restrições orçamentárias. “Política é fazer escolhas em tempos de escassez”, acrescentou.
O aumento proposto enfrentará resistência justamente em países como Itália e Espanha. O ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, alertou que o retorno de Trump ao poder intensificará as exigências. “Certamente Trump acelerará essa pressão. Não será apenas 2%, mas 2,5% ou até 3%”, disse ele nesta semana.
Realidade orçamentária
O Reino Unido, por exemplo, já investe 2,3% do PIB em defesa, mas analistas reconhecem que mesmo 2,5% não seriam suficientes para modernizar totalmente suas Forças Armadas e atender às exigências da Otan. A situação é ainda mais crítica na Espanha, onde o gasto equivale a apenas 1,28% do PIB, colocando o país na última posição entre os membros da aliança.
Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, destacou que, embora o país não atinja o percentual esperado, cumpre outros compromissos, como investir 20% de seu orçamento militar em pesquisa e desenvolvimento. “Contribuímos significativamente com tropas para missões da Otan”, afirmou em um encontro com jornalistas.
Impactos geopolíticos
Especialistas apontam que o aumento para 3% seria uma “sinalização positiva” para os EUA e para Trump, que já ameaçou reduzir o apoio norte-americano à Otan caso os aliados não assumissem mais responsabilidades financeiras.
A Alemanha, que atingiu a meta de 2% pela primeira vez neste ano, tem enfrentado pressão semelhante. O ministro da Defesa, Boris Pistorius, alertou que a Rússia pode se tornar uma ameaça direta à Otan até 2029, justificando a necessidade de maior investimento.
Segundo uma autoridade alemã que pediu anonimato, o debate é urgente e deve acontecer em Haia, na Holanda, entre 24 e 25 de junho, quando os aliados se reunirão novamente. “Com todas as tarefas que enfrentamos, em termos de defesa da Ucrânia e dos requisitos mínimos de capacidade da Otan, essa discussão vai acontecer, aconteça o que acontecer”, disse. “E a próxima cúpula da Otan seria o momento perfeito para isso.”