Estados Unidos localizam provável base de lançamento para novo míssil nuclear da Rússia

Dois pesquisadores dos EUA identificaram o provável local de implantação do 9M730 Burevestnik, descrito por Vladimir Putin como 'invencível'

Dois pesquisadores dos Estados Unidos afirmam ter encontrado o provável local em que a Rússia estaria implantando o 9M730 Burevestnik, um novo míssil de cruzeiro com propulsão nuclear descrito pelo presidente Vladimir Putin como “invencível”. A instalação está quase concluída, indicando que o novo míssil pode ser colocado à disposição das Forças de Foguetes Estratégicos em breve. As informações são da agência Reuters.

Putin afirmou que o míssil, chamado de SSC-X-9 Skyfall pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), tem um alcance praticamente ilimitado e pode escapar das defesas antimísseis dos Estados Unidos. No entanto, alguns especialistas ocidentais duvidam dessas afirmações e da importância estratégica do Burevestnik, dizendo que ele não trará novas capacidades que a Rússia já não tenha e que há um risco de acidentes que poderiam liberar radiação.

O local fica em uma instalação de armazenamento de ogivas nucleares, conhecida como Vologda-20, situada a cerca de 643 quilômetros das fronteiras da Rússia com a Finlândia e a Estônia. A instalação, localizada a 475 km ao norte de Moscou, possui nove posições de lançamento fixas, além de estruturas para manuseio de mísseis e bunkers para armazenar ogivas nucleares. Com as posições de lançamento, os mísseis e as ogivas todos reunidos nesse local, é provável que o Burevestnik esteja em alerta, pronto para ser lançado a qualquer momento.

O presidente russo, Vladimir Putin, assiste a exercícios militares com o ministro da Defesa, Sergei Shoigu (Foto: WikiCommons)

O Burevestnik está gerando bastante preocupação: autoridades dos EUA criticaram o desenvolvimento do míssil, chamando-o de “Chernobyl voador” por emitir radiação. Ao contrário dos mísseis tradicionais que usam motores a jato, o Burevestnik é movido por um reator nuclear desprotegido, o que, em teoria, permite que ele viaje por distâncias praticamente ilimitadas.

Decker Eveleth, analista da CNA, identificou imagens de satélite mostrando nove plataformas de lançamento horizontais em construção. Essas plataformas estão organizadas em três grupos e cercadas por bermas altas para protegê-las contra ataques ou explosões acidentais que possam detonar outros mísseis próximos.

Se o Burevestnik for implantado, será o primeiro míssil desse tipo a entrar em operação. Nos anos 1950 e 1960, os EUA também consideraram desenvolver um míssil com energia nuclear através do Projeto Plutão, mas abandonaram a ideia por causa dos riscos para a população americana. Esses riscos foram confirmados em 2019, quando um Burevestnik explodiu durante um teste, matando vários cientistas russos.

Alguns analistas acreditam que a Rússia poderia usar os Burevestniks para intimidar a Otan sobrevoando o território europeu. No entanto, essa estratégia é improvável, pois existem limitações técnicas, especialmente em relação ao alcance e à visibilidade do míssil.

Embora o Ministério da Defesa da Rússia alegue que o míssil possui um alcance quase ilimitado, operar por longas distâncias ou permanecer no ar por muito tempo traz custos significativos. Mísseis geralmente se orientam por sinais de satélite, que podem ser facilmente bloqueados ou falsificados. Para funcionar sem depender desses sinais, o Burevestnik utiliza navegação inercial, que estima sua posição por meio de acelerômetros e giroscópios que registram sua velocidade, direção e tempo de voo.

Histórico negativo de testes

De acordo com a Nuclear Threat Initiative (NTI), um grupo dedicado à redução de riscos nucleares, biológicos e de novas tecnologias, o Burevestnik teve um histórico desfavorável, com pelo menos 13 testes conhecidos desde 2016, dos quais apenas dois tiveram sucesso parcial.

Entre os problemas enfrentados está uma explosão em 2019, ocorrida durante uma tentativa malsucedida de recuperar um reator nuclear desprotegido, que ficou “ativo” no fundo do Mar Branco por um ano após a queda de um protótipo, conforme relatórios do Departamento de Estado.

Arma política

Pavel Podvig, epecialista em forças nucleares russas, afirma que o Burevestnik não traz novas capacidades para as forças nucleares russas além das que a Rússia já possui, incluindo a capacidade de superar as defesas antimísseis dos EUA.

Ele considera o míssil uma “arma política”, usada por Putin para reforçar sua imagem antes da reeleição em 2018 e para mostrar a Washington que a Rússia não pode ser ignorada em questões de defesa antimísseis e outras preocupações.


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