Europa reforça compromisso com defesa e apoio à Ucrânia em meio à incerteza sobre os EUA

Cúpula de defesa da UE ocorreu em meio a preocupações de que a Rússia, impulsionada pela guerra, possa representar ameaça direta

Em uma cúpula realizada na quinta-feira (6) em Bruxelas, os líderes da União Europeia (UE) reiteraram o compromisso de fortalecer a defesa do bloco e manter o suporte a Kiev, diante de um cenário global marcado pela incerteza sobre a política externa dos Estados Unidos sob a nova era Trump. A reunião aconteceu em meio a temores de que a Rússia, encorajada pelo conflito na Ucrânia, possa ameaçar diretamente territórios europeus, ao mesmo tempo em que cresce a dúvida sobre a disposição de Washington em apoiar seus aliados. As informações são da Reuters.

O encontro, presidido pelo ex-primeiro-ministro português Antonio Costa, resultou em um apoio generalizado às propostas da Comissão Europeia para flexibilizar regras fiscais nos gastos militares e viabilizar um fundo de até 150 bilhões de euros (cerca de 160 bilhões de dólares) para financiar o reforço das Forças Armadas dos países-membros. Em uma declaração conjunta assinada pelos 27 Estados-membros, os dirigentes enfatizaram a necessidade de acelerar a discussão dessas medidas.

O primeiro-ministro polonês Donald Tusk classificou a situação como uma “corrida armamentista” que a Europa precisa vencer. Ele argumentou que, no campo militar, econômico e financeiro, o continente possui condições de superar a Rússia. O presidente francês Emmanuel Macron, por sua vez, reforçou a necessidade de avançar na construção de uma capacidade de defesa independente da Europa, independentemente do desfecho da guerra na Ucrânia.

Volodymyr Zelensky e Ursula von der Leyen (Foto: WikiCommons)
Desafios no apoio à Ucrânia

A cúpula também reafirmou o compromisso europeu com o governo de Zelensky, mas sem a adesão do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, que se recusou a assinar a declaração conjunta. Os outros 26 líderes europeus destacaram que qualquer negociação sobre a guerra deve incluir a Ucrânia e garantiram a continuidade do apoio financeiro e militar ao país.

Apesar dessa posição unificada, desafios significativos permanecem. Durante anos, a Europa confiou na proteção dos EUA para sua segurança, e a decisão de Washington de congelar a ajuda militar à Ucrânia tornou evidente a dificuldade do bloco em suprir essa lacuna. Segundo dados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), os EUA forneceram mais de 40% da assistência militar à Ucrânia em 2023, uma parcela que os europeus ainda não conseguiram compensar.

Diante desse cenário, alguns líderes da UE ainda mantêm esperanças de que Washington possa ser persuadido a manter seu apoio. O chanceler alemão Olaf Scholz enfatizou a importância de garantir o envolvimento americano nos próximos meses e anos, enquanto Macron revelou que a UE endossou uma proposta de Zelensky para um cessar-fogo temporário no ar e no mar, a fim de testar a intenção da Rússia em encerrar o conflito.

Debate sobre dissuasão nuclear

Em um movimento inédito, Macron sinalizou que a França está disposta a discutir a possibilidade de ampliar a proteção nuclear de seu arsenal para outros países europeus. A proposta gerou diferentes reações entre os líderes do bloco: enquanto o presidente lituano Gitanas Nauseda considerou que um “guarda-chuva nuclear” poderia representar um forte elemento de dissuasão contra a Rússia, a Polônia classificou a ideia como “digna de consideração”. Por outro lado, países como a República Tcheca defenderam a manutenção do envolvimento dos EUA na segurança europeia.

A mudança na postura dos EUA, que passaram de um firme apoio à Ucrânia para uma abordagem mais conciliatória em relação a Moscou, tem causado apreensão na Europa. Trump, que recentemente questionou a obrigatoriedade de Washington em defender membros da Otan que não investem suficientemente em suas próprias forças armadas, reforçou a necessidade de que o continente assuma mais responsabilidade por sua própria segurança.

Essa crescente preocupação tem levado países europeus a adotarem medidas concretas para fortalecer suas defesas. Na Alemanha, partidos que negociam a formação do próximo governo chegaram a um acordo para suspender limites constitucionais sobre empréstimos, permitindo maior investimento no setor militar. Já na Noruega, o governo anunciou que mais do que dobrará seu suporte financeiro à Ucrânia em 2024, além de aumentar significativamente seus próprios gastos em defesa.

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