Exílio em Belarus esconde uma armadilha de Putin para o Wagner Group, segundo think tank

Mercenários rebeldes e o líder deles, Evgeny Prigozhin, receberam aval para se exilarem, mas não estão livres de uma eventual extradição

Encerrado o motim do último final de semana na Rússia, o presidente Vladimir Putin voltou atrás em sua promessa de punir severamente o empresário Evgeny Prigozhin, que liderou o movimento rebelde, e os mercenários do Wagner Group que dele participaram. A ação criminal contra o antigo aliado foi retirada, e tanto ele quanto os combatentes receberam autorização para um exílio em Belarus. Tal decisão, porém, esconde uma armadilha, segundo o think tank Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês).

“O Kremlin provavelmente considera o pessoal do Wagner Group que segue Prigozhin a Belarus como traidores, quer tome ou não uma ação imediata contra eles”, diz relatório do centro de pesquisas sediado em Washington, nos EUA.

Vladimir Putin (de preto) ao lado de Evgeny Prigozhin (Foto: WikiCommons)

O documento destaca que o presidente russo chegou a dizer publicamente, em um pronunciamento à nação, que respeitaria os termos do acordo que perdoou Prigozhin e os amotinados. Entretanto, alerta que “o valor de longo prazo dessa promessa, apesar do discurso de Putin, é questionável.” 

O motim terminou graças à intervenção do presidente belarusso Alexander Lukashenko, daí a decisão de direcionar os rebeldes para Belarus. Entretanto, se no país vizinho à Rússia todos parecem protegidos contra eventuais tentativas de assassinato orquestradas por agentes de Moscou, não estão totalmente livres da Justiça russa

“É improvável que o pessoal do Wagner Group em Belarus permaneça a salvo das ordens de extradição russas se Putin renegá-los e acusá-los de traição”, diz o relatório. “Lukashenko entregou anteriormente 33 funcionários do Wagner detidos em Belarus a Moscou depois de usá-los como alavanca contra o Kremlin em 2020, e não há razão aparente para que ele não o faça novamente.”

Prigozhin morto?

Uma vingança de Putin, mesmo que tardia, também é a aposta do ex-agente da KGB Sergei Zhirnov, que atualmente vive refugiado na França. Em entrevista ao jornal espanhol La Vanguardia, ele disse que é uma questão de tempo até o líder russo tentar matar o inimigo, que agora surge inclusive como uma ameaça política na eleição presidencial do próximo ano.

Zhirnov fala com conhecimento de causa, pois chegou a ser entrevistado pelo presidente russo em 1980, quando Putin também era um agente da KGB. Anos depois, os dois se reencontraram no Instituto Andropov, considerado a universidade de espionagem russa. 

“Putin fará tudo o que puder para fazer Prigozhin desaparecer antes de março do próximo ano”, disse o ex-espião, segundo quem Putin é um homem fraco e amedrontado, mas que faz o possível para projetar o oposto. Partindo dessa premissa, existe sim o risco de o empresário “ser eliminado, principalmente agora, porque tentou derrubar Putin” e tornou-se “o inimigo mais perigoso” do presidente da Rússia.

De acordo com Zhirnov, Putin passou a ser considerado um “perdedor”, enquanto Pirgozhin já havia ganhado a simpatia de muitos russos antes mesmo do motim. “Prigozhin é um populista. Para resumir, eu diria que é um Trump russo, um falastrão que usa uma linguagem bem floreada, direta, que explica a verdade”, analisou.

Com vistas ao pleito do próximo ano, o ex-KGB não tem dúvidas ao apontar Prigozhin como favorito caso consiga se candidatar. “As pessoas que estão muito à direita, extrema-direita, os nacionalistas russos que estão criticando Putin hoje, estão felizes com Prigozhin. Ele tem mais chances do que Putin de vencer as eleições. Se houver eleições no próximo ano e Prigozhin concorrer contra Putin, Prigozhin vencerá.”

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