Finlândia aprova iniciativa para construir cercas na fronteira com a Rússia

Helsinque não teme apenas um ataque, mas também o envio por Moscou de migrantes para que ingressem na União Europeia

Os principais partidos políticos da Finlândia chegaram a um acordo para ratificar uma lei que permitirá ao país construir cercas em determinadas regiões da longa fronteira com a Rússia, a fim de conter o fluxo de russos e amenizar eventuais problemas futuros com imigrantes ilegais. As informações são do jornal britânico Guardian.

Desde o ataque russo à Ucrânia, o governo finlandês aumentou o patrulhamento na fronteira, reduziu a concessão de vistos para cidadãos russos e vinha debatendo a construção de barreiras físicas na linha divisória entre as nações. Temendo uma agressão, também tomou a decisão histórica de se candidatar a ingressar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Não é apenas um ataque russo que preocupa. Helsinque teme a possibilidade de Moscou começar a enviar migrantes de outras nações rumo à fronteira para que ingressem na União Europeia (UE), situação que no ano passado gerou uma profunda crise entre Polônia e Belarus. Daí a ideia de construir as cercas.

Região da tríplice fronteira Rússia-Finlândia-Noruega (Foto: Wikimedia Commons)

“Estávamos de acordo sobre a necessidade”, declarou a primeira-ministra Sanna Marin. “Agora, o governo trará propostas concretas ao parlamento”, prosseguiu, explicando que o financiamento para o início do projeto será votado até o início de novembro.

“É uma questão de garantir a vigilância adequada da fronteira da Finlândia”, disse a premiê. “Queremos garantir que nossa guarda de fronteira tenha apoio suficiente para realizar um controle de fronteira apropriado e eficaz, e precisamos estar preparados para quaisquer situações perturbadoras”.

A ideia é erguer as cercas em cerca de 20% da fronteira, ou 260 quilômetros. A barreira terá arame farpado no topo, câmeras de vigilância e sensores de movimento. Os locais escolhidos são aqueles nos quais o governo detecta maior risco de migração em larga escala, sobretudo no sudeste finlandês. O projeto tende a levar quatro anos para ser concluído, ao custo de centenas de milhares de euros.

Por que isso importa?

Finlândia e Rússia compartilham uma fronteira de cerca de 1,3 mil quilômetros, quase toda ocupada por florestas. Mas a linha divisória atualmente tem apenas algumas marcações, sem qualquer tipo de barreira efetiva.

Até o começo de setembro, um número crescente de russos vinha ingressando no território finlandês, fluxo que passou a aumentar desde o início da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro. Helsinque chegou a processar cerca de mil vistos diários para cidadãos do país vizinho.

Por via rodoviária, os russos atravessavam a linha que divide as duas nações com o objetivo de comprar produtos agora indisponíveis na Rússia e também para ir de lá a outros destinos europeus, driblando assim as sanções que encerraram diversas rotas aéreas partindo de território russo. Mais recentemente, muitos tentam deixar o país para fugir da mobilização militar decretada por Vladimir Putin.

Então, em agosto, o governo finlandês decidiu reduzir em 90% o número de vistos emitidos a cidadãos russos, como forma de represália pelo conflito. Também foi criada uma categoria especial de visto, o humanitário, cujos beneficiários são jornalistas e colaboradores de ONGs.

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