Russos cruzam o Mar de Bering para obter asilo e ligam o alerta de segurança nos EUA

Indivíduos desembarcaram perto de Gambell, cidade separada do território russo por menos de 60 quilômetros de mar

Dois cidadãos russos que dizem ter fugido do recrutamento militar ordenado pelo presidente Vladimir Putin pediram asilo nos Estados Unidos, segundo revelou a senadora norte-americana Lisa Murkowski em comunicado. Eles chegaram a uma ilha remota do Estado do Alasca após cruzarem o Mar de Bering, uma extensão do Oceano Pacífico que liga o Alasca à Sibéria.

Os indivíduos desembarcaram em uma praia perto da cidade de Gambell, localizada na ponta noroeste da ilha de St. Lawrence, no Alasca. Para se ter ideia, menos de 60 quilômetros de mar separam a cidade norte-americana da Sibéria, na Rússia. Entretanto, a menor distância entre os territórios russo e norte-americano é inferior a quatro quilômetros.

Membros das forças armadas da Rússia (Foto: Reprodução/Facebook)

Devido à curta distância entre os países e à facilidade com que a dupla conseguiu realizar a travessia, a aventura deu início a um debate sobre segurança nacional nos EUA, iniciado pela senadora.

“Este incidente deixa duas coisas claras: primeiro, o povo russo não quer lutar na guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia. Em segundo lugar, dada a proximidade do Alasca com a Rússia, nosso Estado tem um papel vital a desempenhar para garantir a segurança nacional dos Estados Unidos”, disse Murkowski.

A senadora contestou a falta de fiscalização na região. “Apenas autoridades locais e estaduais tiveram a capacidade de responder imediatamente aos requerentes de asilo, enquanto a Alfândega e a Proteção de Fronteiras tiveram que despachar uma aeronave da guarda costeira a mais de 1,2 mil quilômetros de distância para entrar em cena”.

Ainda nas palavras de Murkowski, a situação “ressalta a necessidade de uma postura de segurança mais forte no Ártico da América, que defendi durante todo o meu tempo no Senado”.

As autoridades norte-americanas ainda não se posicionaram oficialmente sobre a situação dos dois russos, cujo pedido de asilo está sendo analisado. E o governo passou a debater uma nova estratégia de controle de fronteira, temendo que cada vez mais russos tentem fazer a travessia.

Por que isso importa?

Muitos russos não receberam bem a decisão do presidente Vladimir Putin de convocar cerca de 300 mil cidadãos para reforçar as forças armadas na guerra na Ucrânia. A mobilização parcial levou milhares de pessoas a fugir do país.

Muitos cidadãos em idade de recrutamento optaram por deixar o país, com relatos de fronteiras lotadas em países vizinhos como GeórgiaMongólia e Cazaquistão. Voos da Rússia para Armênia, Turquia e Azerbaijão, países que fazem fronteira com o território russo e não exigem visto de entrada, rapidamente se esgotaram.

Atentas ao problema, as ex-repúblicas soviéticas de LetôniaLituânia e Estônia anunciaram em 19 de setembro, junto da Polônia, a decisão de barrar a maioria dos cidadãos russos que tentassem entrar em seus territórios.

Entre os que ficaram na Rússia, a ideia de aceitar a convocação não é unanimidade, e protestos populares passaram a ser registrados em todos os cantos. Tal movimento não se via desde que a lei foi endurecida para silenciar os dissidentes, em março, quando Moscou passou a punir os cidadãos acusados de “desacreditar o uso das forças armadas”.

Somente na primeira semana que sucedeu o anúncio da mobilização, a ONG OVD-Info, que monitora a repressão estatal na Rússia, registrou quase 2,5 mil detenções em protestos populares contra a decisão do Kremlin. E o número real tende a ser bem maior, vez que são divulgados apenas os dados referentes a nomes que conseguiu confirmar, com base em listas fornecidas pelas autoridades, e que recebeu autorização para divulgar.

Em todo o país, voltaram a ser comuns as cenas de policiais usando a força para deter manifestantes nas ruas, algo que não vinha acontecendo nos meses anteriores. Na Sibéria, autoridades locais relataram que um oficial de recrutamento foi gravemente ferido a bala por um manifestante que também incendiou o escritório onde atuava o funcionário do governo. Episódio parecido ocorreu na cidade de Uryupinsk, na região de Volgogrado, onde um coquetel molotov atingiu um centro de recrutamento.

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