General russo relata mortes na Ucrânia, fala em ‘traição’ de Moscou e é demitido

Em áudio divulgado no Telegram, Ivan Popov reclama da falta de apoio do Ministério da Defesa aos soldados da Rússia

O general Ivan Popov, um dos comandantes mais graduados do exército russo na região sul da Ucrânia ocupada, foi abruptamente destituído de seu cargo na quarta-feira (12). Segundo ele, o que motivou a demissão foi o fato de ter contado a “verdade” sobre o que ocorre no front, como as mortes excessivas de soldados e a falta de apoio de Moscou. As informações são da rede CNN.

A destituição de Popov, que coloca mais pressão sobre o exército russo após o fracassado motim do grupo mercenário Wagner contra as forças regulares, ocorreu logo após ele acusar a liderança do Ministério da Defesa de Moscou de trair as tropas ao não fornecer o apoio necessário solicitado.

O general era o comandante do 58º Exército de Armas Combinadas, que enfrentou combates intensos na região de Zaporizhzhya durante a campanha russa no país invadido. Em mensagem de áudio divulgada no Telegram, ele diz que foi demitido após expressar aos superiores sua preocupação com os problemas que seus comandados vinham enfrentando, como falta de equipamentos e o elevado número de mortos e feridos.

Zaporizhzhya após um bombardeio russo, setembro de 2022 (Foto: WikiCommons)

A gravação no aplicativo de mensagens foi compartilhada por Andrey Gurulev, membro do Parlamento russo e ex-vice-comandante do Distrito Militar do Sul. Nela, o general Popov também afirmou que abordou com a liderança militar russa os “vários problemas de forma franca e severa”, expondo principalmente as questões problemáticas relacionadas ao trabalho de combate e apoio.

Sem mencionar seus nomes, Popov pareceu criticar o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, e o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, que são os dois militares mais poderosos da Rússia. Ele os acusou de “apunhalar o país pelas costas”.

“O exército ucraniano não conseguiu romper nossas fileiras na frente, mas nosso chefe sênior nos atingiu pela retaguarda, decapitando violentamente o exército no momento mais difícil e intenso”, disse Popov, que descreveu tal ação como “traiçoeira e vil”, ocorrendo em um momento crítico e tenso.

Segundo a agência Reuters, o Ministério da Defesa russo não fez comentários imediatos, e a agência não pôde verificar de forma independente a autenticidade da mensagem de voz.

Não se sabe quando a mensagem foi gravada, e o paradeiro atual do general Popov é desconhecido. O Ministério da Defesa não divulgou informações sobre sua demissão.

Se a mensagem for autêntica, essa crítica pública à liderança militar russa vinda de um general experiente em combate, menos de três semanas após o motim do Wagner Group, revela o crescente descontentamento dentro do exército russo, que enfrenta a maior guerra terrestre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Vulnerabilidade

A demissão de um oficial de alto escalão durante uma disputa aberta sobre a condução da campanha militar russa é considerada sem precedentes por analistas.

De acordo com o think tank Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), sediado em Washington, Popov notificou Gerasimov sobre a necessidade de rotacionar elementos do 58º Exército Combinado. Esse destacamento está envolvido na tentativa de conter os avanços ucranianos no oeste de Zaporizhzhya, após ter lutado combates intensos por um longo período e sofrido baixas significativas.

O 58º Exército tem desempenhado um papel crucial na defesa das posições russas na direção de Orikhiv, onde as forças ucranianas têm buscado fazer avanços.

Segundo comandantes ucranianos, os russos estão perdendo em média duas companhias por dia, entre mortos e feridos, ao longo da frente sul. Normalmente, uma companhia russa é composta por algo entre cem e 200 soldados.

O ISW afirmou que os relatos sobre os protestos de Popov, se forem verdadeiros, “corroboram as avaliações anteriores do instituto, indicando que as forças russas estão com falta de reservas operacionais para realizar rodízios de pessoal na defesa contra as contraofensivas ucranianas. E que as linhas defensivas russas podem ser vulneráveis.”

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