Hungria é o primeiro país da União Europeia a proibir a marcha do orgulho LGBT

Lei controversa foi aprovada sob o argumento de protege as crianças; críticos apontam um retrocesso democrático

Em uma decisão histórica, o parlamento húngaro aprovou uma alteração na Lei de Reunião que proíbe as marchas do orgulho LGBT em todo o país. A emenda, aprovada pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, faz parte de um pacote que inclui proibições de manifestações que, segundo o governo, violam a “Lei de Proteção à Criança”. As informações são do site Politico.

“Proteger as crianças é uma prioridade em todas as circunstâncias. Quem tem filhos sabe qual é o problema com a parada do orgulho e suas consequências nas mídias sociais e outros fóruns públicos. Eu tenho três filhos e não gostaria que eles vissem esse tipo de conteúdo”, afirmou Máté Kocsis, líder do grupo parlamentar Fidesz, em defesa da nova legislação.

Parada LGBT em Budapeste, 2013 (Foto: Joost/Flickr)

A resposta do grupo Budapeste Pride, que organiza a principal marcha do país, foi imediata e severa, descrevendo a ação como um deslize autoritário: “Isso não é proteção infantil, isso é fascismo,” declarou a organização em um comunicado. Segundo eles, a medida seria uma estratégia de Orbán para angariar votos dos extremos da direita húngara nas eleições de 2026.

Orbán, por sua vez, usou a rede social X para reforçar a ideia que, segundo ele, está por trás do veto. “Hoje, votamos para proibir reuniões que violem as leis de proteção à criança”, disse. “Na Hungria, o direito da criança ao desenvolvimento físico, mental, intelectual e moral saudável vem em primeiro lugar. Não deixaremos que a ideologia woke (termo que identifica questões de justiça social e racial) coloque nossos filhos em perigo.”

A reação pública e política à proibição foi mista. Enquanto alguns setores da sociedade apoiaram a mudança, uma grande parte da população e políticos liberais se mostraram contrários. Pesquisas indicam que apenas 36% dos eleitores húngaros apoiam a proibição, enquanto 56% desejam manter as marchas públicas. Em Budapeste, a capital do país, essa oposição é ainda mais acentuada, com 78% dos residentes defendendo a realização pública do evento.

O prefeito de Budapeste, Gergely Karácsony, reforçou o compromisso da cidade em resistir à nova lei: “Não importa o que digam, haverá Pride em Budapeste este junho. Pode até ser maior do que nunca antes.” Ele ainda criticou o que classifica como uma estratégia do governo de difamação para desviar a atenção dos verdadeiros problemas do país.

A primeira marcha LGBT da Hungria aconteceu em 1997, seis após a queda definitiva da Cortina de Ferro, com o fim da União Soviética. Agora, quase 30 anos depois, o país é o primeiro da União Europeia (UE) a adotar uma lei proibindo o evento.

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