Igreja Ortodoxa contesta o papa por chamar líder religioso russo de ‘coroinha de Putin’

Em entrevista a jornal italiano, sumo pontífice havia contestado a passividade do Patriarca Cirilo diante do presidente russo

A Igreja Ortodoxa Russa reprovou as recentes declarações do papa Francisco, que contestou a passividade do patriarca Cirilo no que tange à guerra na Ucrânia e disse que ele “não pode se transformar no coroinha de Putin“. As informações são da agência Reuters.

As duras palavras do papa foram reveladas em entrevista ao jornal italiano Corriere Della Sera e teriam sido ditas diretamente a Cirilo, durante conversa virtual de 40 minutos que os dois religiosos tiveram que os dois tiveram em março.

“O papa Francisco escolheu um tom incorreto para transmitir o conteúdo desta conversa”, disse o Patriarcado de Moscou. “Tais declarações não devem contribuir para o estabelecimento de um diálogo construtivo entre as Igrejas Católica Romana e Ortodoxa Russa, o que é especialmente necessário no momento”.

O papa Francisco e o presidente russo Vladimir Putin (Foto: Wikimedia Commons)

Além de revelar o teor da conversa com Cirilo, o papa disse na entrevista ao periódico italiano que tentou agendar uma encontro pessoal com Putin, mas não obteve resposta.

Moscou, por sua vez, revelou parcialmente o conteúdo do diálogo entre Francisco e Cirilo. Nele, o líder ortodoxo teria contestado a imprensa ocidental por não relatar a guerra com precisão, justificando a invasão da Ucrânia com base no fato de que cidadãos de origem russa estariam sendo perseguidos no território ucraniano, o que Kiev sempre desmentiu.

A Igreja Ortodoxa citou outro argumento usado pelo Kremlin para justificar a invasão. “O patriarca Cirilo lembrou ainda que, no final da era soviética, a Rússia recebeu a garantia de que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) não se moveria uma polegada na direção leste”, disse o Patriarcado de Moscou. “No entanto, esta promessa foi quebrada.”

Embora não esconda a posição favorável à guerra, a Igreja Ortodoxa Russa usou uma suposta declaração de Cirilo para lamentar o desenvolvimento do conflito. “Claro, esta situação está associada a uma grande dor para mim. Meu rebanho está em ambos os lados do confronto, eles são principalmente ortodoxos”, teria dito o patriarca. “Como podemos promover a pacificação daqueles que lutam com o único objetivo de alcançar a consolidação da paz e da justiça?”.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho, no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo an. Aquele conflito foi usado por Vladimir Putin como argumento para justificar a invasão integral, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país.

No início da ofensiva, o objetivo das forças russas era dominar Kiev, alvo de constantes bombardeios. Entretanto, diante da inesperada resistência ucraniana, a Rússia foi forçada a mudar sua estratégia. As tropas, então, começaram a se afastar de Kiev e a se concentrar mais no leste ucraniano, a fim de tentar assumir definitivamente o controle de Donbass e de outros locais estratégicos naquela região.

Em meio ao conflito, o governo da Ucrânia e as nações ocidentais passaram a acusar Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, dando início a investigações de crimes de guerra ou contra a humanidade cometidos pelos soldados do Kremlin.

O episódio que mais pesou para as acusações foi o massacre de Bucha, cidade ucraniana em cujas ruas foram encontrados dezenas de corpos após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

O jornal The New York Times realizou uma investigação com base em imagens de satélite e associou as mortes em Bucha a tropas russas. As fotos mostram objetos de tamanho compatível com um corpo humano na rua Yablonska, entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Fora do campo de batalha, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanções. As esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais já começaram a sufocar a economia russa, e o país tem se tornado um pária global. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, mais de 600 empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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