Inspirada no Wagner Group, estatal russa criará sua própria empresa militar privada

Segundo inteligência ucraniana, a nova companhia de mercenários será coordenada pela Gazprom

A estatal de energia Gazprom, controlada pelo governo da Rússia, está criando sua própria empresa militar privada (PMC, da sigla em inglês), informou a inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia em comunicado na terça-feira (7). Com isso, as forças russas devem ampliar seu expressivo contingente de mercenários no front. As informações são do portal ucraniano de língua inglesa The Kyiv Independent.

“Portanto, a ‘corrida armamentista’ da Rússia continua entre os principais atores políticos, que estão criando ativamente exércitos privados, seguindo o exemplo da companhia militar privada Wagner Group”, diz o documento, fazendo menção a um decreto assinado pelo primeiro-ministro russo Mikhail Mishustin.

Estatal russa Gazprom: foco agora é na militarização (Foto: Gazprom/Reprodução Twitter)

Wagner, organização paramilitar russa ativamente envolvida na guerra contra a Ucrânia, foi recentemente designada pelo Departamento de Tesouro dos EUA como “organização criminosa transnacional”. As tropas são chefiadas pelo oligarca Evgeny Prigozhin, tido como principal financiador da facção e um velho aliado do presidente Vladimir Putin

A inteligência ucraniana também explica que a criação da nova PMC é legitimada a partir de uma lei russa relativa à “segurança de objetos do complexo de combustível e energia”. A legislação garante a entidades do setor “o direito de estabelecer uma organização de segurança privada”. A lei também estabelece que as entidades não podem ter menos de 50% de participação na empresa militar privada resultante.

Wagner Group, que há até pouco tempo era uma organização envolta em mistério, resolveu definitivamente tornar sua existência pública. Tanto que o grupo inaugurou em São Petesburgo, a segunda maior cidade da Rússia, sua base central de operações, que servirá também como centro para desenvolvimento de novas tecnologias militares a serviço do país. 

Enquanto amplia suas tropas mercenárias, Prigozhin tem se mostrado cada vez mais crítico às forças armadas do país, além de reivindicar créditos por tomadas de território, o que tem gerado desconforto para o chefe do Kremlin. A organização já teria atingindo a marca de 50 mil combatentes no conflito.

Por que isso importa?

O nome do Wagner Group remete ao pseudônimo do fundador Dmitriy ‘Wagner’ Valeryevich Utkin, que por sua vez tomou como referência o compositor alemão favorito de Hitler e um dos símbolos da Alemanha nazista. Posteriormente, Prigozhin tornou-se responsável pelo financiamento da organização e passou a ser a cara mais conhecida à frente dela.

A atuação do Wagner sempre foi envolta em mistério, inclusive com alegações de que sequer existia. Porém, as inesperadas dificuldades enfrentadas por Moscou na guerra na Ucrânia levaram o Kremlin a buscar reforços, e os mercenários surgiram como alternativa. A ponto de o grupo ter o nome citado na TV estatal e de ter criado uma campanha para recrutar novos membros na Rússia.

Há indícios de que ao menos dez mil pessoas já serviram ao Wagner Group desde que ele deu as caras pela primeira vez. Foi em 2014, quando os mercenários foram destacados para dar suporte às forças separatistas pró-Rússia da região de Donbass e na Crimeia, na Ucrânia.

De lá para cá, há sinais de presença do grupo em conflitos em diversos partes do mundo, principalmente na África, onde está em pelo menos seis países africanos.

Para isso, conta com o suporte da propaganda do Kremlin, que há anos realiza uma campanha de influência no continente, sobretudo focada em nações politicamente instáveis. O governo russo faz uso das redes sociais para difundir uma imagem favorável junto à população local e atua até mesmo para influenciar os protestos de rua.

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