Intimidação de monitores europeus amplia crise entre a União Europeia e a Geórgia

Patrulha da Missão de Monitoramento criada após a guerra de 2008 foi parada por 'atores de segurança' russos perto da Abecásia

Uma equipe de monitoramento da União Europeia (UE) foi vítima de um ação intimidatória por parte das forças de ocupação russas perto da região da Abecásia, na Geórgia, na terça-feira (17). O episódio amplia a crise entre as partes, conforme se reduzem as chances de Tbilisi ser aceita como integrante do bloco europeu. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

De acordo com a Missão de Monitoramento da UE (EUMM, na sigla em inglês), “atores de segurança” interceptaram uma patrulha na região de Khurcha, perto da fronteira da Abecásia. Os monitores foram liberados ilesos mais tarde, mas a ação incomodou o bloco europeu.

Após o incidente, a EUMM manifestou “profunda preocupação a respeito de quaisquer ações que impeçam seus monitores de realizar suas atividades obrigatórias”. A Missão foi estabelecida após a guerra de 2008 entre a Geórgia e a Rússia para monitorar a fronteira, enquanto as tropas russas ocupam a região desde o conflito separatista.

Bandeira da União Europeia no Parlamento Europeu, 2013 (Foto: European Union/Pietro Naj-Oleari)

A Rússia, que vê a Geórgia como parte de sua esfera de influência legítima, invadiu em 2008 duas regiões separatistas no país, a Ossétia do Sul e a Abecásia, para oferecer apoio militar às forças locais em sua luta por independência.

A guerra teve início quando as tropas georgianas tentaram recuperar o controle da província separatista da Ossétia do Sul. A Rússia enviou unidades que derrotaram os militares locais em cinco dias de combate, e desde então o Kremlin reconhece o território como um Estado independente. A Abecásia igualmente demanda sua separação do resto da Geórgia e tem seu pedido apoiado por Moscou.

A invasão da Abecásia e da Ossétia do Sul ocasionou o ponto mais baixo das relações entre Moscou e Tbilisi desde o fim da União Soviética, em 1991. Porém, o cenário vem mudando, com uma reaproximação gradual. O governo georgiano tem importantes figuras sob a influência russa, o que mantém o país ao alcance de Vladimir Putin.

Um sinal da reaproximação entre Geórgia e Rússia foi a recente aprovação por Tbilisi da lei do agente estrangeiro, que guarda enorme semelhança com a que existe na Rússia desde 2012. O texto exige que organizações ou indivíduos que recebem financiamento estrangeiro e se envolvem em atividades políticas ou sociais se declarem “agentes estrangeiros”. A medida atinge sobretudo jornalistas e ativistas de direitos humanos, que acabam silenciados devido às punições previstas no texto.

Desde que a lei passou a ser debatida na Geórgia, seu teor antidemocrático vem sendo contestado pela UE e por Washington.

Em maio, o jornal Financial Times disse que três funcionários do bloco europeu disseram, sob condição de anonimato, que a pretensão georgiana de ingressar na UE estaria comprometida caso o texto entrasse em vigor. O país se candidatou em 2022, pouco após a invasão da Ucrânia pelas tropas da Rússia.

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