Em cúpula na Rússia, líderes africanos instam Putin a suspender bloqueio de grãos

Pedido surge em meio a temores de aumento nos preços dos alimentos, agravando a emergência de segurança alimentar no Chifre da África

Na sessão de abertura da cúpula Rússia-África na quinta-feira (27), o presidente de Comores e da União Africana (UA), Azali Assoumani, fez um apelo a Moscou para que permita a exportação de grãos ucranianos e russos. O pedido vem em meio a preocupações de que o veto ao acordo do corredor do Mar Negro possa levar a um aumento nos preços dos alimentos, agravando a emergência de segurança alimentar no Chifre da África. As informações são do jornal Washington Post.

De São Petersburgo, Assoumani enfatizou a importância de abrir o acesso à exportação de grãos ucranianos e russos para salvar vidas africanas. Enquanto isso, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a Rússia é responsável por 20% dos suprimentos globais e prometeu substituir o fornecimento para o continente africano.

O Kremlin retratou sua participação de mercado como um projeto “humanitário”. Mas, ao bloquear os grãos ucranianos dos mercados mundiais, Moscou pode se beneficiar dos preços mais altos desses produtos, lucrar com alimento roubado nas regiões ocupadas e enfraquecer a economia de Kiev.

Vladimir Putin fala durante abertura da segunda Cúpula Rússia-África (Foto: Government of Uganda/Twitter/Reprodução)

Diante desse cenário de conflito, Assoumani alertou para as “consequências negativas” da guerra na Ucrânia e como ela vem afetando o mundo, incluindo a África.

Ele mencionou que os países africanos mantêm “relações de parceria” tanto com Moscou quanto com a Ucrânia e enfatizou que o mundo está “à beira da destruição”, enquanto os Estados africanos estão sofrendo as consequências dessa situação.

O presidente da UA destacou que a questão do fornecimento de grãos é de extrema importância para os povos do continente e alertou sobre o possível impacto na cooperação caso o acordo do Mar Negro mantenha-se suspenso.

Apesar disso, expressou gratidão a Putin pela ajuda prestada pela Rússia ao continente africano, destacando que os investimentos russos têm possibilitado o desenvolvimento de muitos países, segundo repercutiu a emissora TSF.

Na terça-feira, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Pierre-Olivier Gourinchas, alertou os jornalistas que os preços globais dos grãos podem aumentar em até 15% devido ao bloqueio. Essa preocupação surge após a Rússia atacar instalações de transporte e armazenamento de grãos no rio Danúbio, o que representa uma ameaça à última grande rota de exportação de grãos da Ucrânia. A situação é delicada e pode ter impactos significativos no mercado global de alimentos.

Os críticos alertam que a decisão do Kremlin de bloquear o acesso da Ucrânia ao mercado africano resultaria em uma maior dependência das nações africanas em relação aos grãos russos. Além disso, apontam que a Rússia já demonstrou sua disposição em utilizar sua influência em outros setores sensíveis, como gás e petróleo, para exercer pressão política. Tal situação levanta preocupações sobre a possível manipulação política através do controle do suprimento de grãos.

Mercado essencial

A Rússia e a Ucrânia respondem por cerca de 30% de todas as exportações de trigo e cevada do mundo, um quinto do milho e mais da metade do óleo de girassol.

Quase metade das exportações embarcadas sob o acordo é de milho, e mais de um quarto é trigo, segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgados em maio. Cerca de 45% das exportações foram para países desenvolvidos. O maior destinatário foi a China, seguida de Espanha, Turquia, Itália Holanda.

Há duas semanas, a Rússia rejeitou prorrogar o Acordo do Corredor de Grãos, que permitia à Ucrânia exportar as sementes de seus portos no Mar Negro desde o ano passado. A justificativa é a de que as promessas de liberar seus próprios embarques de alimentos e fertilizantes não foram cumpridas.

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