Manifestantes anti-Putin deturpam símbolo pró-guerra com a mensagem ‘fascistas’

Polícia russa abriu uma investigação para identificar manifestantes que acrescentaram "fascistas" à letra "Z" pintada em uma cidade no oeste do país

Desde o início da guerra na Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, a Rússia tem sido implacável com cidadãos que se opõem ao conflito. Não à toa, uma lei foi criada em março para punir qualquer um que “desacreditar as forças armadas” ou disseminar “notícias falsas”. Mesmo assim, há quem siga desafiando o Kremlin, arriscando ser alvo de um processo e de uma eventual pena de prisão. As informações são do jornal britânico Daily Express.

Entre os casos recentes, a polícia russa está investigando um ato de “vandalismo” depois que um símbolo pró-guerra foi alterado na cidade de Izhevsk, capital da República Udmurt, no oeste do país. Uma letra “Z”, comumente pintada em veículos do exército russo no território invadido e posteriormente abraçada por parte da população como forma de apoio às tropas, teve a palavra “fascistas” pintada abaixo.

Letra “Z” saiu dos veículos táticos do exército russo na Ucrânia para virar símbolo de opoio à “operação especial” de Putin (Foto: Twitter/Reprodução)

Desde o início da chamada “operação militar especial” de Vladimir Putin, quase 200 pessoas foram indiciadas criminalmente por protestos antiguerra, incluindo manifestações na internet. Além disso, já são cerca de 3,3 mil casos administrativos arquivados contra cidadãos que ousaram desacreditar as forças armadas.

Entre os casos de dissidência mais comentados hoje no país está o da jornalista e ativista Marina Ovsyannikova, colocada em prisão domiciliar até o dia 9 de outubro. Ela aguarda pelo julgamento de um processo que pode render uma pena de até dez anos de reclusão após segurar um cartaz com fotos de crianças supostamente mortas na Ucrânia e as palavras “Putin é um assassino. Seus soldados são fascistas”. Ela ganhou fama global ao realizar um protesto ao vivo na emissora estatal Canal 1 (Piervy Kanal), em março.

Por que isso importa?

Na Rússia, protestar contra o governo já não era uma tarefa fácil antes da eclosão da guerra na Ucrânia. Os protestos coletivos desapareceram das ruas desde que o governo passou a usar a pandemia de Covid-19 como argumento para punir grandes manifestações, sob a alegação de que o acúmulo de pessoas fere as normas sanitárias. Assim, tornou-se comum ver pessoas solitárias erguendo cartazes com frases contra o governo.

Desde a invasão do país vizinho por tropas russas, no dia 24 de fevereiro, o desafio dos opositores do presidente Vladimir Putin aumentou consideravelmente, com novos mecanismos legais à disposição do Estado e o aumento da violência policial para silenciar os críticos. Uma lei do início de março, com foco na guerra, pune quem “desacredita o uso das forças armadas”.

Dentro dessa severa nova legislação, os detidos têm que pagar multas que chegam a 300 mil rublos (R$ 16,9 mil). A pena mais rigorosa é aplicada por divulgar “informações sabidamente falsas” sobre o exército e a “operação militar especial” na Ucrânia, que é como o governo descreve a guerra. A reclusão pode chegar a 15 anos.

Apesar dos riscos, muitos russos enfrentam a repressão e a possibilidade de serem presos e protestam de diversas maneiras para deixar clara sua oposição ao conflito.

Em Moscou, no dia 15 de março, ignorando todos esses riscos, uma mulher escolheu como ponto de protesto a Catedral do Cristo Salvador. Em um cartaz, reproduziu o sexto mandamento segundo a Igreja Ortodoxa: “Não matarás”. Outra mulher desafiou a censura e se posicionou em uma esquina próxima do Kremlin com um cartaz que dizia “Não à guerra”. Ambas foram retiradas por policiais e colocadas em um camburão menos de dez minutos depois de exibirem os cartazes.

Artista russa é presa por protestar contra a guerra nas etiquetas de preços
Jovem russa exibe cartaz com a frase “não matarás” em protesto antiguerra (Foto: reprodução/Twitter)

Yevgenia Isayeva, uma artista e ativista da cidade russa de São Petesburgo, optou por um protesto mais gráfico no dia 27 de março. Com um vestido branco, ela se posicionou em frente à prefeitura da cidade e, então, despejou tinta vermelha sobre a roupa, enquanto dizia repetidamente: “Meu coração sangra, meu coração sangra…”. Também teve poucos minutos para se manifestar antes de ser retirada à força.

Há, ainda, os manifestantes que querem deixar sua mensagens sem expor a própria imagem. Casos dos grafiteiros que têm feito surgir nos muros de cidades russas mensagens antiguerra. Também em 27 de março, dois homens foram presos na cidade de Tula, no sul do país, acusados de grafitar mensagens como “Derrubem Putin” e “Parem Putin”.

Coletivamente, um jeito diferente de protestar tem sido através de mensagens escritas em cédulas e moedas de rublos. O fenômeno passou a ser compartilhado em plataformas como TwitterTelegram e Reddit. As mensagens são normalmente escritas à mão, sendo as frases mais comuns “não à guerra” e “russos contra a guerra”.

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