Mercenários russos foram enviados à Ucrânia para reforçar front pró-Moscou

Combatentes foram recrutados para reforçar as defesas contra forças do governo ucraniano na turbulenta região leste do país

Mercenários russos foram enviados nas últimas semanas ao leste da Ucrânia, região controlada por separatistas, onde irão reforçar as defesas contra forças do governo ucraniano, disseram quatro fontes. O momento é de aumento das tensões entre a Rússia e o Ocidente, segundo informações da agência Reuters.

Dezenas de milhares de soldados foram enviados por Moscou para postos de passagem mais próximos da Ucrânia. Logo após, o governo russo exigiu garantias de segurança urgentes do Ocidente, medidas que o Kremlin julga necessárias para impedir que Kiev e países vizinhos sejam usados como uma base para um ataque à Rússia.

Do outro lado, o Ocidente e a Ucrânia acusam a Rússia de cogitar um novo ataque aos vizinho do sul já no mês que vem, afirmação que o Kremlin rechaça.

Soldado das forças ucranianas na região de Donbass (Foto: WikiCommons)

Das quatro fontes ouvidas, que não revelaram a identidade por questões de segurança, três relataram que receberam ofertas de recrutadores mercenários para irem à conturbada região de Donbass, reivindicada por militantes pró-Moscou. Elas disseram que os recrutadores não revelaram quem representam.

Duas delas disseram ter aceitado, a terceira disse ter recusado. “Existe uma casa cheia. Eles estão reunindo todos que têm experiência em combate”, disse uma das fontes que aceitaram.

O relator detalhou já ter experiência em conflitos na região, tendo lutado anteriormente na Ucrânia e também na Síria, engrossando as fileiras de grupos de segurança russos cujas operações são rigorosamente alinhadas aos interesses estratégicos do Kremlin. O mercenário revelou que tinha planos de se unir aos companheiros combatentes do lado russo da fronteira com a região separatista de Luhansk, no leste da Ucrânia. Os contratantes não foram revelados.

“É a primeira vez que ouvimos falar disto e não sabemos quão confiáveis são estas afirmações”, disse porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov. Segundo ele, “o Kremlin não tem nada a ver com empreiteiros militares russos privados”, os quais descreve como “voluntários sem nenhuma conexão com o Estado”.

Alexander Borodai, ex-primeiro ministro da República Popular de Donetsk e chefe da União de Voluntários de Donbass, afirma que sua organização não teve envolvimento no recrutamento de combatentes. “Se necessário, chamaremos pessoas. Mas não houve nenhuma chamada por enquanto”, disse Borodai, que também é parlamentar do partido de situação na Rússia, o Rússia Unida.

O serviço de inteligência militar da Ucrânia não quis comentar. Já o serviço de segurança do Estado não respondeu a um pedido de comentários da reportagem.

Por que isso importa?

tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a UE. A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.

Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península da Crimeia e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da região com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.

Com base no referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território russo. Entre outras medidas, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o número usado na Rússia.

Paralelamente à questão da Crimeia, Moscou também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe ao governo ucraniano as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e contam com suporte militar russo.

Em 2021, as tensões escalaram na fronteira entre os dois países. Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.

Especialistas calculam que a Rússia tenha entre 70 mil e 100 mil soldados nas proximidades da Ucrânia, sendo necessária uma força de 175 mil para invadir, além de mais combustível e munição. Conforme o cenário descrito pela inteligência dos EUA, as tropas russas invadiriam o país vizinho pela Crimeia e por Belarus.

Um eventual conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a fortalecer suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, suas tropas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.

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