Morta aos 98 anos, crítica de arte russa deixa herança bilionária para Vladimir Putin

Coleção de Nina Moleva inclui obras de Leonardo da Vinci e Michelangelo, cuja origem até hoje não foi devidamente esclarecida

A crítica e colecionadora de arte russa Nina Moleva morreu no último domingo (11), aos 98 anos de idade. Três dias depois, na quarta (14), o jornal The Moscow Times confirmou que a valiosa coleção de obras dela, que acredita-se valer até US$ 2 bilhões, será herdada pelo presidente Vladimir Putin.

Através da agência estatal de notícias Interfax, o Ministério da Cultura da Rússia confirmou a morte de Moleva, exaltada não apenas como crítica de arte, mas também como escritora, historiadora, cientista, jornalista e veterana de guerra.

A coleção continha trabalhos de artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rembrandt. De acordo com o site Art Review, Moleva dizia ter herdado as cerca de mil obras de Ivan Grinyov, avô do falecido marido, que mantinha o acervo desde antes da Revolução Russa. Quando o Império foi derrubado, ele teria escondido as peças em um sótão falso para não perdê-las.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, em outubro de 2020 (Foto: Wikimedia Commons)

Na versão de Moleva, ela e o marido, Ely Belyutin, descobriram as peças somente quatro décadas após a morte do dono original. Pesquisadores, entretanto, questionam a história, sob o argumento de que a maioria dos grandes colecionadores sempre esteve bem documentada, mas jamais houve qualquer registro sobre a coleção de Grinyov.

As mais de mil peças, entre quadros e esculturas, atualmente ficam guardadas em um apartamento de Moscou com segurança 24 horas. Segundo Moleva, a rede de leilões Drouot, de Paris, teria avaliado as obras em até US$ 2 bilhões, com um lance inicial não inferior a US$ 400 milhões.

Devido às inconsistências na história contada por ela sobre as origens da coleção, o Museu Pushkin de Belas Artes, na capital russa, chegou a rejeitar as obras quando foram oferecidas pela colecionadora, que queria exibi-las ao público. A casa argumentou inclusive que algumas peças são falsas.

Entre as teorias que surgiram ao longo dos anos para explicar a origem da coleção, contrariando a versão da dona, a mais aceita é a de que Moleva e o marido atuavam como colecionadores a serviço de líderes soviéticos. Uma outra sugere que Belyutin contrabandeou as peças quando atuou como agente de inteligência do Kremlin.

Ao definir quem herdaria as obras após sua morte, Moleva decidiu doá-las ao Estado. Os advogados, no entanto, informaram que a lei russa exige que seja estabelecida uma pessoa física para tanto. Assim, ela escolheu Putin.

A própria crítica de arte confirmou, ainda em 2015, que pretendia selecionar o líder como herdeiro, em entrevista ao The Moscow Times. “Deixei isso para o presidente”, disse ela na ocasião.

Desde que Moleva anunciou quem herdaria a coleção, o governo designou policiais para a segurança do apartamento onde as peças eram mantidas, o mesmo onde teria vivido o dono original, Grinyov. Agora, com a morte da colecionadora, o desejo dela será atendido.

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