Navalny sofre com o frio em prisão e promete processar governo por falta de botas

Rival de Putin diz que sofre boicote no presídio e fica assim impedido de deixar a cela, pois faltam roupas adequadas para o inverno

Preso desde o inicio de 2021 e com uma sentença de ao menos 11 anos a ser cumprida, Alexei Navalny, maior rival doméstico do presidente russo Vladimir Putin, segue com problema na colônia penal IK-6 onde está detido, perto de Moscou. Ele alega que não recebeu botas para usar no rigoroso inverno e por isso pretende processar o presídio.

“Estou processando minha colônia, exigindo que eu receba botas de inverno”, disse ele em uma sequência de posts no Twitter, atualizado por aliados. “Agora, não riam. Eles não as emitem de forma alguma. E eu realmente preciso delas (as botas). Já se passaram semanas desde que toda a colônia mudou para roupas de inverno, e meus malvados guardas da prisão estão descaradamente não me dando botas de inverno”.

Segundo o oposicionista, o pequeno pátio onde ele realiza os exercícios tem o piso de concreto todo coberto por neve, e sem as botas fica inviável ir até lá. “É a única hora e meia de ar fresco que eu posso ter”, afirmou. Assim, restam duas opções: ficar na cela em tempo integral ou arriscar uma saidinha e correr o risco de ficar doente.

“Pegar um resfriado não é nada se você estiver em casa com cobertor, chá e mel. Mas, em uma cela onde a água quente vem apenas em três xícaras – no café da manhã, almoço e jantar -, ficar doente é fortemente desencorajado”, declarou Navalny, que afirmou já ter ficado doente no cárcere antes.

Nos últimos meses, o rival de Putin relatou diversos abusos supostamente cometidos contra ele na cadeira. Em mais de uma ocasião ele disse que foi colocado em confinamento solitário, sob acusações diversas como ter se recusado a fechar todos os botões dos trajes de prisão durante o período em que trabalha fora da cela.

Em outra ocasião, prometeu processar o presídio a fim de obter informações sobre quem compra os produtos que ele e outros detentos produzem dentro das instalações. Ele trabalha como costureiro na prisão e diz que recebe por seu trabalho, mensalmente, um salário de 5.173 rublos (R$ 450, em valores atuais), com carga horária diária de sete horas e 15 minutos de intervalo.

O líder da oposição Alexei Navalny: maus-tratos na prisão (Foto: Divulgação/Vladimir Varfolomeev)
Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais em toda a Rússia e, entre outras ações, denunciava casos de corrupção envolvendo o governo Putin e figuras importantes ligadas a ele. Isso levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do rival, que também passou a ser perseguido.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.

Em janeiro deste ano, ele foi incluído na lista de “terroristas e extremistas” do Serviço Federal de Monitoramento Financeiro da Rússia. No dia 22 de março, foi julgado por peculato e desacato. Condenado, teve o tempo de detenção ampliado em nove anos. Nos últimos meses, ele relatou que novos crimes lhe foram imputados, podendo ampliar a detenção para até 30 anos.

De acordo com uma postagem feita no Twitter pela equipe dele, as novas acusações incluem os crimes de promover o terrorismo, apelar publicamente ao extremismo, financiar atividades extremistas e reabilitar o nazismo. Elas estariam relacionadas a vídeos publicados pela equipe no canal de Navalny YouTube.

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