Preso pelo governo russo desde janeiro deste ano, o oposicionista Alexei Navalny foi nomeado para receber o Prêmio Sakharov, concedido anualmente pelo Parlamento Europeu. A honraria homenageia “indivíduos e organizações excepcionais que defendem os direitos humanos e as liberdades fundamentais”, segundo relatório publicado pelo órgão na segunda-feira (27).
O texto afirma que Navalny foi nomeado “por sua coragem na luta por liberdade, democracia e direitos humanos”. Destaca, ainda, que ele é o “principal oponente político do presidente do país, Vladimir Putin“, num momento em que a própria União Europeia (UE) adota posição de confronto com a Rússia.
Coincidentemente, o nome da honraria remete a um dissidente político soviético, o físico Andrei Sakharov. O prêmio em dinheiro é de 50 mil euros e terá o vencedor conhecido em 21 de outubro, enquanto a entrega ocorre em dezembro.
Mais concorrentes
Além de Navalny, o prêmio tem mais quatro concorrentes. Entre eles um grupo de 11 mulheres afegãs lembradas por sua luta por direitos humanos e igualdade no país recentemente dominado pelo Taleban. Na nomeação, o Parlamento recorda a passagem anterior dos talibãs pelo poder, entre 1996 e 2001, quando “mulheres viviam casamento forçado, alta mortalidade materna, baixa alfabetização, testes de virgindade forçada e não podiam viajar sem um homem”.
Outra candidata é Jeanine Áñez, política boliviana e “símbolo da repressão contra dissidentes e da privação do devido processo legal e do Estado de Direito na América Latina”. Já Sultana Khaya é uma ativista e defensora dos direitos humanos da República Árabe Saharaui Democrática, território do Saara Ocidental que é parcialmente reconhecido internacionalmente como nação independente. Por fim, a Global Witness é uma ONG britânica que investiga abusos ambientais nos setores de gás, petróleo, mineração e madeira.
Por que isso importa?
Navalny ganhou destaque internacional ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A principal plataforma do oposicionista é o combate à corrupção no governo Putin, em virtude da qual ele uma cobra profunda reforma na estrutura política do país.
Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Voltou a Moscou em janeiro de 2021 e foi preso ainda no aeroporto. Em fevereiro, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.
Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril, para protestar contra a falta de atendimento médico. Em junho de 2021, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção de funcionarem, classificando-as como “extremistas”.
Em agosto, a Justiça russa abriu uma nova acusação criminal contra o oposicionista, o que pode ampliar a sentença de prisão dele em três anos. Agora, o principal opositor de Putin é acusado de “incentivar cidadãos a cometerem atos ilegais”, por meio da Fundação Anticorrupção (FBK) que ele criou.
Caso seja condenado a mais três anos de cárcere, Navalny seria mantido sob custódia no mínimo até o fim da próxima eleição presidencial, em 2024, quando chega ao fim o atual mandato de seis anos de Vladimir Putin no Kremlin.