Principal adversário de Putin, Navalny é condenado a mais nove anos de prisão

Líder da oposição russa se declarou inocente de novas acusações que ele diz terem "motivação política"

A Justiça russa declarou nesta terça-feira (22) o rival político número 1 de Vladimir Putin, Alexei Navalny, culpado por peculato e acusações de desacato, estendendo sua sentença para nove anos de prisão. O movimento é visto como um ato de repressão ao crítico do Kremlin e à sociedade civil. As informações são da rede Radio Free Europe.

A decisão foi dada pela juíza do tribunal distrital de Lefortovo Margarita Kotova, que anunciou a pena a ser cumprida na mesma colônia penal onde Navalny já se encontra, na cidade de Pokrov, nos arredores de Moscou.

O ativista está preso desde janeiro de 2021, condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014. Ele, que se declarou inocente e argumenta que sua detenção tem motivação política, também recebeu uma multa de 1,2 milhão de rublos (cerca de R$ 56 mil).

Alexei Navalny, oposicionista do presidente Vladimir Putin (Foto: reprodução/Instagram)

O veredito inviabiliza a candidatura de Navalny para as próximas eleições da Rússia. Em coletiva de imprensa, a defesa informou que irá apelar da decisão. Antes de terminar a conversa com os repórteres, os dois advogados foram levados sob custódia pela polícia, sendo liberados pouco tempo depois.

“Quando Putin e outros pensarem que podem resistir por nove anos, será exatamente a mesma superestimação de sua força que os levou à guerra e ao desastre econômico”, disse Leonid Volkov, assessor-chefe do oposicionista e que esteve à frente da campanha dele para prefeito de Moscou em 2013 e 2018. Hoje, Volkov está fora da Rússia e figura em uma lista de ‘terroristas e extremistas’ junto de Ivan Zhdanov, chefe da extinta Fundação Anticorrupção (FBK) de Navalny.

Navalny compareceu ao tribunal visivelmente mais magro e vestido com o uniforme prisional preto. O acusado estava cercado por agentes de segurança enquanto Kotova lia as acusações que pesavam contra ele.

“Nove anos. Bem, como diziam os personagens da minha série de TV favorita “The Wire”: “Você só cumpre dois dias: o dia em que você entra e o dia em que você sai. Eu tinha até uma camiseta com esse slogan, mas as autoridades prisionais confiscaram, considerando a estampa extremista”, disse Navalny em seu peculiar senso de humor pela sua conta no Twitter após ser julgado.

A assessora de imprensa de Navalny, Kira Yarmysh, disse após o veredicto que a FBK, rotulada como uma organização “extremista” e banida, agora estaria “levando as atividades para o nível internacional” ao lançar uma Fundação Anticorrupção global.

Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A principal plataforma do oposicionista é o combate à corrupção no governo de Vladimir Putin, em virtude da qual ele uma cobra profunda reforma na estrutura política do país.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido ainda no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua fundação, a FBK, de funcionarem, classificando-as como “extremistas”.

Em agosto do ano passado, a Justiça russa abriu uma nova acusação criminal contra o oposicionista, o que poder ampliar a sentença de prisão dele em três anos. Ele foi acusado de “incentivar cidadãos a cometerem atos ilegais”, por meio da FBK que ele criou.

Já em setembro de 2021, uma terceira acusação, por “extremismo”, ameaça estender o encarceramento por até uma década, sendo mantido sob custódia no mínimo até o fim da próxima eleição presidencial, em 2024, quando chega ao fim o atual mandato de seis anos de Vladimir Putin no Kremlin.

Tags: