O opositor russo Alexei Navalny, principal rival doméstico do presidente Vladimir Putin, disse na quarta-feira (7), em sua conta no Instagram, que foi colocado na solitária pela quarta vez desde agosto. Ele está preso na colônia penal IK-6, onde cumpre uma pena de 11 anos de reclusão.

Bem-humorado, Navalny comparou a situação à de dois personagens do cinema que foram trancafiados em celas especiais devido à alta periculosidade. “Isso significa que agora serei colocado em condições ESTRITAS de detenção dentro de uma colônia de regime estrito. Será como o Dr. Lecter em O Silêncio dos Inocentes ou Magneto em X-Men?”, disse ele, postando fotos dos atores Anthony Hopkins e Ian McKellen nas duas produções de Hollywood.

A punição, segundo Navalny, foi aplicada após ele ser classificado pelo presídio como “violador malicioso”. E teve um efeito que o levou a chamar seus algozes de “vigaristas”. Isso porque, estando na solitária, Navalny teve mais uma vez adiado um encontro que teria com os pais e a mulher e que vem sendo postergado pela Justiça nos últimos quatro meses.

O oposicionista destacou, ainda, que a condição é raríssima na Rússia e tem afetado particularmente a família dele. “Parece que, dos presos políticos na Rússia de Putin, apenas dois foram reconhecidos até agora como ‘violadores maliciosos’. O segundo sou eu. E o primeiro foi o meu irmão Oleg“.

De acordo com a rede Radio Free Europe, o isolamento solitário levou Navalny a entrar com uma ação contra Yury Korobov, diretor da IK-6. Ele alega no processo que a decisão de enviá-lo ao isolamento seguidas vezes é irregular.

Os argumentos do presídio para impor a punição são variados. Ele já foi punido por supostamente desrespeitar as regras de vestimenta, andando com um dos botões do macacão aberto. Em outra ocasião, teria demorado para obedecer as ordens de colocar as mãos para trás. Também teria se identificado de forma errada quando questionado por um agente carcerário.

Segundo Navalny, porém, a ida à solitária é uma decisão meramente política, um castigo por sua posição contrária a Putin e pelas denúncias de corrupção no governo russo que ele fez nos últimos anos.

Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A principal plataforma do oposicionista é o combate à corrupção no governo de Vladimir Putin, em virtude da qual ele cobra uma profunda reforma na estrutura política do país.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e a FBK de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.

Em janeiro deste ano, ele foi incluído na lista de “terroristas e extremistas” do Serviço Federal de Monitoramento Financeiro da Rússia. No dia 22 de março, foi julgado por peculato e desacato. Condenado, teve o tempo de detenção ampliado em nove anos. Recentemente, mais uma acusação foi adicionada à lista de crimes atribuídos a ele, podendo render-lhe 15 anos adicionais no cárcere.