Otan estaria articulando para remover Zelensky do poder na Ucrânia, segundo a Rússia

Alegação de serviço de inteligência russo ocorre em meio à incerteza sobre continuidade do apoio militar dos EUA a Kiev

A Rússia afirmou na segunda-feira (3) que membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) estariam planejando desestabilizar politicamente o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, com o objetivo de promover eleições e alterar a liderança do país. A acusação partiu do Serviço de Inteligência Estrangeiro (SVR), que citou preocupações da aliança ocidental sobre o futuro da guerra diante da nova administração dos Estados Unidos. As informações são da revista Newsweek.

Segundo o SVR, a Otan pretende “congelar” o conflito, mas encontra em Zelensky um obstáculo. Para atingir esse objetivo, haveria uma campanha para desacreditar o líder ucraniano, acusando-o de desvio de mais de US$ 1,5 bilhão destinados à compra de munições para as Forças Armadas do país. A organização também sugeriu que a aliança ocidental deseja que a Ucrânia realize eleições até o outono deste ano, como parte do processo para afastar o presidente do poder.

Não há evidências que confirmem a existência de tal complô, entretanto. A Newsweek informou que procurou a Otan e o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia para comentar a alegação, mas não obteve resposta até o momento.

O líder ucraniano, Volodymyr Zelensky (Foto: Governo da Ucrânia/Divulgação)

A possível mudança na liderança da Ucrânia ocorre em um momento de grande expectativa sobre os próximos passos do governo dos Estados Unidos. O presidente Donald Trump, que tomou posse para um segundo mandato em 20 de janeiro, afirmou que deseja encerrar rapidamente a guerra e já indicou que pode aumentar tarifas e sanções contra a Rússia caso Vladimir Putin não interrompa o conflito.

Desde o início da invasão russa, Zelensky rejeitou repetidamente as exigências do Kremlin, que incluem a cessão de territórios ocupados e a desistência da adesão à Otan. Moscou, por sua vez, há tempos tenta deslegitimar o governo ucraniano, sustentando que o líder ucraniano não tem autoridade para firmar acordos de paz, uma vez que não foram realizadas eleições presidenciais devido à lei marcial vigente no país.

O SVR afirmou que a Otan “está cada vez mais inclinada a uma mudança de poder na Ucrânia” e que “mesmo a aliança entende que os dias de Zelensky estão contados”. O serviço de inteligência russo também acusou o bloco ocidental de promover eleições sob uma “fachada democrática” para justificar a substituição do líder ucraniano.

EUA apoiam eleição na Ucrânia

Em uma entrevista à agência Reuters, Keith Kellogg, enviado especial de Trump para assuntos envolvendo Ucrânia e Rússia, declarou que os Estados Unidos apoiam a realização de eleições no país até o final do ano. “Acredito que seja algo positivo para a democracia. Esse é o aspecto fundamental de um sistema democrático sólido: mais de uma pessoa pode concorrer”, afirmou.

Por outro lado, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, reconheceu que houve um excesso de otimismo em relação à capacidade da Ucrânia de reverter os avanços russos. “O que Putin fez foi terrível, invadiu o país, cometeu atrocidades, fez coisas horríveis. Mas o erro foi fazer parecer que a Ucrânia poderia empurrar a Rússia de volta para a realidade de 2012 ou 2014”, disse.

A discussão sobre eleições na Ucrânia reflete um dilema para Kiev. O país mantém sua estrutura de governo sob a lei marcial, o que impede a realização de pleitos por razões de segurança. No entanto, a pressão internacional, especialmente vinda de Washington, pode levar a mudanças na condução política da guerra.

O presidente Trump afirmou no domingo (2) que já tem reuniões agendadas com “diversas partes, incluindo Ucrânia e Rússia”, o que alimenta especulações sobre novas negociações para encerrar o conflito. Ainda não está claro se Zelensky continuará a ser peça central nesse processo ou se os interesses ocidentais caminham para uma transição no comando do país.

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