Para aumentar contingente, Rússia aceitará maiores de 40 anos nas forças armadas

Parlamento russo anunciou que irá considerar um projeto de lei que retire o limite de idade para o ingresso no exército

Em uma clara demonstração de que o Kremlin precisa reforçar com urgência seu front na Ucrânia, o Parlamento russo disse nesta sexta-feira (20) que irá considerar uma emenda que elimine o limite de idade para o alistamento nas Forças Armadas, permitindo o ingresso de cidadãos acima de 40 anos e estrangeiros com mais de 30. As informações são da agência Reuters.

A medida permitirá que os militares utilizem as habilidades de potenciais recrutas mais velhos, de acordo com nota publicada no site da Duma, a Câmara Baixa da assembleia federal do país.

“Para o uso de armas de alta precisão, a operação de armas e equipamentos militares, são necessários especialistas altamente profissionais. A experiência mostra que eles se tornam assim entre os 40 e 45 anos”, diz o comunicado.

Soldados da Guarda de Honra russa (Foto: WikiCommons/Divulgação)

Atualmente, a lei permite somente que russos de 18 a 40 anos e estrangeiros entre 18 e 30 assinem um primeiro contrato com o exército.

A Rússia tem enfrentado adversidades significativas desde que suas tropas invadiram o país vizinho em 24 de fevereiro. Os maiores problemas são as baixas de soldados e a perda de equipamentos militares, ao passo em que a Ucrânia mobilizou praticamente toda a sua população masculina adulta para o confronto.

Ainda em março, uma declaração feita pela inteligência militar britânica dizia que a invasão “estava em grande parte paralisada em todas as frentes”, e as forças russas estavam “atoladas” e sofrendo baixas importantes por conta de uma resistência ucraniana sólida e bem comandada.

Apesar de assumir o controle total das ruínas de Mariupol, Moscou continua distante de cravar sua bandeira em toda a região de Donbass, no leste ucraniano.

“Claramente, os russos estão com problemas. Esta é a mais recente tentativa de resolver a escassez de mão de obra sem alarmar sua própria população”, observou o general aposentado dos EUA Ben Hodges, ex-comandante das forças do Exército dos EUA na Europa. “Mas está ficando cada vez mais difícil para o Kremlin disfarçar seus fracassos na Ucrânia”.

Na análise do especialista em guerra terrestre do think tank britânico de segurança e defesa RUSI, a falta de infantaria é um dos grandes problemas enfrentados pelo exército de Vladimir Putin. Na visão dele, a situação poderia mudar de figura com o acréscimo de pessoas com “habilidades existentes e experiência militar”.

A Duma ainda detalhou que a legislação proposta facilitaria o recrutamento de médicos civis, engenheiros e especialistas em operações e comunicações.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho, no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano. Aquele conflito foi usado por Vladimir Putin como argumento para justificar a invasão integral, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país.

No início da ofensiva, o objetivo das forças russas era dominar Kiev, alvo de constantes bombardeios. Entretanto, diante da inesperada resistência ucraniana, a Rússia foi forçada a mudar sua estratégia. As tropas, então, começaram a se afastar de Kiev e a se concentrar mais no leste ucraniano, a fim de tentar assumir definitivamente o controle de Donbass e de outros locais estratégicos naquela região.

Em meio ao conflito, o governo da Ucrânia e as nações ocidentais passaram a acusar Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, dando início a investigações de crimes de guerra ou contra a humanidade cometidos pelos soldados do Kremlin.

O episódio que mais pesou para as acusações foi o massacre de Bucha, cidade ucraniana em cujas ruas foram encontrados dezenas de corpos após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

O jornal The New York Times realizou uma investigação com base em imagens de satélite e associou as mortes em Bucha a tropas russas. As fotos mostram objetos de tamanho compatível com um corpo humano na rua Yablonska, entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Fora do campo de batalha, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanções. As esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais já começaram a sufocar a economia russa, e o país tem se tornado um pária global. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, mais de 600 empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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