Pentágono afirma que Rússia está recrutando sírios para lutar na Ucrânia

Washington questiona necessidade de o Kremlin buscar reforços, considerando o grande poder de fogo do exército russo

Sírios e combatentes de outras partes do mundo estão sendo recrutados pela Rússia para engrossar suas tropas, conforme a ofensiva na Ucrânia fica mais intensa, segundo relatou o Pentágono na segunda-feira (7). O Kremlin, que ingressou na guerra civil da Síria em 2015 e deu suporte ao governo do presidente Bashar al-Assad, agora quer contar com a ajuda de combatentes oriundos do país do Oriente Médio para a missão da tomada de Kiev. As informações são do jornal The Moscow Times.

De acordo com funcionários do Departamento de Defesa dos EUA, o líder russo Vladimir Putin está coordenando “uma missão de recrutamento” e quer contar com esses novos soldados para uma invasão à capital ucraniana e também na conquista de outras cidades estratégicas.

Um alto funcionário de Washington relatou ao jornal Wall Street Journal que alguns homens já estão na Rússia, onde se preparam para ingressar no front na ex-república soviética. Não há informações sobre o número de combatentes recrutados nem detalhes sobre se eles possuem experiência militar.

“Acreditamos nos relatos de que os russos estão procurando combatentes sírios para aumentar suas forças na Ucrânia. Acreditamos que há verdade nisso”, disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby, durante coletiva de imprensa.

Monumento é transformado em trincheira na cidade ucraniana de Odessa (Foto: Twitter/Reprodução)

O fato de Putin ter à disposição um contingente de 150 mil soldados, enorme poder de fogo e ainda assim mostrar necessidade de buscar reforços chamou a atenção do Pentágono.

“É interessante que Putin tenha que se ver confiando em combatentes estrangeiros aqui”, disse Kirby, embora reconheça que a Defesa norte-americana não tenha “visibilidade perfeita” sobre quem exatamente está se juntando à causa.

A presença de combatentes estrangeiros no conflito do leste europeu ocorre em ambos os lados. Pelo lado da Ucrânia, segundo o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, cerca de 20 mil voluntários estrangeiros se alistaram para reforçar as tropas do país.

“Veteranos experientes e voluntários de 52 países do mundo vêm até nós”, disse ele. Entre eles estão aproximadamente 500 brasileiros que desejam ir ao Leste Europeu se alistar à Legião Internacional de Defesa do Território, criada pelo governo ucraniano durante a guerra para lutar contra o invasor.

Do lado russo, o líder checheno Ramzan Kadyrov, um ex-rebelde e hoje aliado de primeira ordem de Putin, compartilhou vídeos de combatentes locais se juntando ao ataque à Ucrânia. Segundo ele, alguns perderam a vida no front.

A ONU (Organização das Nações Unidas), por meio do seu porta-voz, Stephane Dujarric, disse que “não há como confirmar ou não” relatos de recrutamento de mercenários pela Rússia. Segundo ele, “o conflito não precisa de mais pessoas vindo de fora”.

Rumo a Kiev

A capital Kiev e a segunda maior cidade ucraniana, Kharkiv, ainda são controladas pelo governo da Ucrânia. Após 13 dias de conflito, a Rússia já tomou a cidade portuária de Kherson e intensificou o bombardeio de centros urbanos em todo o território do país vizinho.

Após duas semanas, mais de 1,7 milhão de pessoas a fugir do país, fluxo que a ONU classificou como a maior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esportecinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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