Polônia prende jornalista espanhol acusado de ser agente da inteligência russa

Pablo Gonzalez é acusado de "participar de atividades de inteligência estrangeira contra a Polônia" e pode pegar até dez anos de prisão

O governo da Polônia anunciou, nesta sexta-feira (4), a prisão de um jornalista espanhol acusado de ser um agente da inteligência russa. A detenção ocorreu na cidade de Przemysl, perto da fronteira com a Ucrânia, de acordo com a rede Radio Free Europe.

De acordo com as autoridades polonesas, o homem foi identificado como sendo um agente do GRU, o Departamento Central de Inteligência da Rússia. Embora as autoridades não tenham dito o nome do acusado, o advogado dele, Gonzalo Boye, disse se tratar de Pablo Gonzalez, jornalista freelancer que prestou serviços pelo jornal português Público e à emissora espanhola de TV La Sexta.

“Ele realizou atividades para a Rússia usando seu status jornalístico. Como resultado, ele pôde se mover livremente pela Europa e pelo mundo, incluindo zonas afetadas por conflitos armados e áreas de tensão política”, disse o comunicado da Agência de Segurança Interna (ABW, na sigla em polonês) da Polônia.

De acordo com o defensor, Gonzalez foi mantido incomunicável por 72 horas e “submetido a interrogatórios sem sem ter acesso à proteção consular”. O crime do qual ele é acusado, “participar de atividades de inteligência estrangeira contra a Polônia”, pode render até dez anos de prisão.

Polícia da Polônia em operação conjunta com Romênia e Lituânia, 2014 (Foto: West Midlands Police)

A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) se manifestou no Twitter. sobre o caso. “Pablo Gonzalez estava cobrindo a guerra na Ucrânia para meios de comunicação como @publico_es e @laSextaTV quando foi preso em 28 de fevereiro. A RSF insta ABW a explicar a base legal de sua prisão, garantir sua segurança e permitir-lhe acesso imediato ao seu advogado e aos serviços consulares da Espanha”.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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