O governo da Polônia anunciou, nesta sexta-feira (4), a prisão de um jornalista espanhol acusado de ser um agente da inteligência russa. A detenção ocorreu na cidade de Przemysl, perto da fronteira com a Ucrânia, de acordo com a rede Radio Free Europe.
De acordo com as autoridades polonesas, o homem foi identificado como sendo um agente do GRU, o Departamento Central de Inteligência da Rússia. Embora as autoridades não tenham dito o nome do acusado, o advogado dele, Gonzalo Boye, disse se tratar de Pablo Gonzalez, jornalista freelancer que prestou serviços pelo jornal português Público e à emissora espanhola de TV La Sexta.
“Ele realizou atividades para a Rússia usando seu status jornalístico. Como resultado, ele pôde se mover livremente pela Europa e pelo mundo, incluindo zonas afetadas por conflitos armados e áreas de tensão política”, disse o comunicado da Agência de Segurança Interna (ABW, na sigla em polonês) da Polônia.
De acordo com o defensor, Gonzalez foi mantido incomunicável por 72 horas e “submetido a interrogatórios sem sem ter acesso à proteção consular”. O crime do qual ele é acusado, “participar de atividades de inteligência estrangeira contra a Polônia”, pode render até dez anos de prisão.
A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) se manifestou no Twitter. sobre o caso. “Pablo Gonzalez estava cobrindo a guerra na Ucrânia para meios de comunicação como @publico_es e @laSextaTV quando foi preso em 28 de fevereiro. A RSF insta ABW a explicar a base legal de sua prisão, garantir sua segurança e permitir-lhe acesso imediato ao seu advogado e aos serviços consulares da Espanha”.
Pablo Gonzalez was covering the war in #Ukraine for media such as @publico_es & @laSextaTV when he was arrested on 28 Feb. RSF urges ABW to explain the legal basis for his arrest, guarantee his safety and allow him immediate access to his lawyer and #Spain‘s consular services.
— RSF (@RSF_inter) March 3, 2022
Por que isso importa?
A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.
O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.
“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.
Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.
Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.
De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.