O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou na quinta-feira (21) que o conflito na Ucrânia deixou de ser regional a partir do momento em que Estados Unidos e Reino Unido autorizaram o uso de mísseis de longo alcance por Kiev contra alvos em território russo. “Desde então, o conflito adquiriu elementos de um caráter global”, afirmou ele em discurso transmitido pela televisão estatal, conforme reportado pela agência Reuters.
O líder russo confirmou que Moscou usou o Oreshnik, um novo míssil balístico hipersônico russo, em resposta aos ataques recentes com o ATACMS (Sistema de Mísseis Táticos do Exército) e mísseis Storm Shadow fornecidos pelo Ocidentes. A arma de Moscou foi direcionada contra uma instalação militar na cidade de Dnipro, na Ucrânia.
“Consideramos que temos o direito de usar nossas armas contra as instalações militares dos países que permitem que suas armas sejam usadas contra nossas instalações”, disse Putin. “Se alguém mais duvida disso, então está errado. Sempre haverá uma resposta.”
Embora tenha minimizado o impacto das armas ocidentais, dizendo que não são capazes de “mudar o curso das ações militares” da Rússia, o presidente reconheceu que os ataques ucranianos resultaram em mortes e feridos, além de danos na região de Kursk.
Putin também aproveitou a oportunidade para criticar Washington pela saída unilateral do pacto INF (Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, da sigla em inglês), um acordo histórico firmado entre EUA e a então União Soviética para eliminar e proibir o uso de mísseis balísticos e de cruzeiro de alcance intermediário (entre 500 metros e 5,5 mil quilômetros), sejam nucleares ou convencionais.
Segundo ele, a decisão americana, tomada em 2019, abriu caminho para uma nova corrida armamentista. “A Rússia, de forma unilateral, se comprometeu a não implantar mísseis desse tipo, mas tudo depende das ações do Ocidente”, reiterou, ainda segundo a Reuters.
Reino Unido projeta escalada no Leste Europeu
As declarações de Putin, que indicam um conflito de proporções globais, ecoam fortemente entre os membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). No Reino Unido, o vice-chefe da Defesa, Rob Magowan, garantiu que as Forças Armadas britânicas estão prontas para enfrentar a Rússia, caso uma nova agressão ocorra na Europa Oriental.
“Se o Exército britânico fosse chamado para lutar nesta noite, ele lutaria nesta noite”, afirmou Magowan em uma audiência no Parlamento, conforme reportado pelo site Politico. “Não acho que ninguém nesta sala deva ter a ilusão de que, se os russos invadissem o Leste Europeu nesta noite, não os enfrentaríamos naquela luta.”
Apesar da promessa, o momento é desfavorável, vez que a capacidade militar britânica enfrenta desafios. Com o menor efetivo desde o século XVIII e cortes orçamentários recentes, incluindo a desativação de navios e aeronaves, a estrutura defensiva do Reino Unido está sendo revisada.
Tal cenário reforça a afirmação de especialistas sobre a necessidade de fortalecimento das defesas da Otan. Nações como Letônia e Estônia, vizinhas da Rússia, têm demonstrado preocupação com um possível avanço de Moscou, enquanto o Reino Unido tenta equilibrar as limitações de sua força militar com a necessidade de responder a qualquer ameaça no Leste Europeu.