Putin usou empresas offshore para registrar imóveis da ex-mulher e das filhas, aponta investigação

Denúncia feita por um site investigativo se soma a outras tantas que associam o presidente da Rússia a escândalos de corrupção

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, usou uma série de empresas offshore para registrar imóveis que são na verdade usados pela ex-mulher e por duas filhas dele. A movimentação, que aumenta as suspeitas de corrupção envolvendo o líder russo, foi revelada pelo site Proekt.

O veículo investigativo baseou a denúncia em informações obtidas em e-mails enviados por Krill Shamalov, ex-genro de Putin. As mensagens vazaram em 2020 e já haviam sido usadas por outros meios de comunicação para denunciar casos suspeitos envolvendo o presidente.

Agora, os e-mails revelam situações inusitadas, como o fato de que as filhas do presidente jamais oficializaram seus casamentos em cartório, possivelmente para evitar problemas legais com as propriedades. E, apesar da enorme fortuna da qual parece usufruir, a família Putin tem o hábito de dar calote em empreiteiros.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin: denúncias de corrupção se acumulam (Foto: Wikimedia Commons)

Os imóveis são usados por Lyudmila Putina-Ocheretnaya, ex-esposa do presidente, e pelas filhas dele Maria Vorontsova, a mais velha, e Katerina Tikhonova, a mais nova. Todos ficam localizados nas proximidades de Novo-Ogaryovo, a residência onde o presidente vive desde que chegou ao poder.

As propriedades teriam sido compradas em 2006 por três empresas offshore ligadas a Putin: a Ermira, registrada no Chipre, e as panamenhas Topsail Development e Dorrington Commercial.

Um dos e-mails contém uma conversa de 2012 entre Shamalov e a ex-mulher dele, a caçula de Putin Katerina. O então casal debate uma reforma ao custo de nove milhões de euros que seria feita em um dos imóveis. No ano seguinte, a residência foi transferida para Artur Ocheretny, atual marido da ex-esposa de Putin, Lyudmila.

Nas mensagens existe até uma reclamação feita pela gestora da obra de que os pagamentos feitos por Shamalov haviam sido interrompidos. “Preciso muito de dinheiro. Não só para mim, mas também para um grande número de subcontratados que realizaram trabalhos”, diz a mulher ao reclamar do calote, cujos valores circulam na casa de 900 mil euros.

Segundo o Proekt, os casamentos das filhas de Putin jamais foram formalizados em cartório, embora uma enorme cerimônia tenha sido realizada para celebrar a união entre Shamalov e Katerina. Isso permite às herdeiras de Putin e ao próprio presidente evitar associações diretas com as propriedades.

O casal se divorciou entre 2016 e 2017, quando os e-mails ligados ao ex-genro de Putin deixam de aparecer entre as mensagens vazadas. Ele, então, foi obrigado a devolver as propriedades, além de ações no valor de US$ 380 milhões da Sibur, uma petroquímica hoje ligada a oligarcas aliados do presidente. Manteve, porém, uma pequena fortuna em ações e dinheiro ganho ao longo do casamento.

No caso de Maria, a primogênita do presidente, casada extraoficialmente com o empresário holandês Jorrit Faassen, acredita-se que ela utilize duas residências registradas desde 2013 em nome da empresa Berocci Investments, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas e subsidiária da cipriota Ermira.

Os bens de Putin

São frequentes as denúncias de que Putin é o verdadeiro dono de bens móveis e imóveis que oficialmente não estão registrados no nome dele. O caso mais famoso é o de um palácio avaliado em US$ 1,3 bilhão que a equipe do oposicionista Alexei Navalny diz pertencer ao presidente da Rússia.

Construído entre 2005 e 2010, o palácio tem 17,6 mil metros quadrados e fica na região do Mar Negro. O local conta com igreja, uma estufa de 2,5 mil metros quadrados, anfiteatro e vários edifícios residenciais.

A megaconstrução tem, entre outros caprichos, uma pista de patinação no gelo e uma sala de pole dance. Com centenas de cômodos, o imóvel oferece aos hóspedes uma série de salas de cinema, saguão com bar, cassinos e piscinas. Também há um “túnel” para acesso privativo à praia.

Embora a denúncia tenha partido da FBK, a fundação anticorrupção de Navalny, em janeiro de 2021, outros veículos de imprensa independentes fizeram suas próprias investigações e confirmaram as acusações.

Imagem da fachada do que seria o palácio de US$ 1,3 bilhão de Putin (Foto: fbk.info)

Em maio deste ano, o site investigativo russo The Insider revelou que Putin também teria o direito de usufruir de uma luxuosa vila de pescadores na Finlândia, construída por um amigo do chefe do Kremlin a um custo de aproximadamente US$ 3,2 milhões.

A residência de três andares, que não foi concluída, possui uma série de comodidades, incluindo um elevador, adega, garagem subterrânea, sauna, piscina privativa, sala de bilhar, escritório e oito banheiros. Entretanto, até hoje não há qualquer indício de que o líder russo tenha sequer visitado o imóvel.

No ano passado, a rede norte-americana CNBC noticiou a apreensão do superiate Scheherazade, avaliado em US$ 700 milhões e supostamente de propriedade de Putin. A relação entre o presidente e a embarcação foi sugerida pela equipe de Navalny.

Um dos argumentos para associar a embarcação a Putin é o fato de que praticamente toda a tripulação, com exceção do capitão, é composta por cidadãs russos. E muitos deles são funcionários do Serviço Federal de Proteção (FSO, na sigla em russo), responsável pela proteção pessoal do presidente.

Também há registros de que, em duas ocasiões, uma em 2020, outra em 2021, o iate navegou até o Mar Negro, rumo a um resort na cidade russa de Sóchi. Putin tem uma residência oficial em Sóchi, para onde viaja habitualmente.

Tags: