Relatório da ONU expõe violência sexual, tortura e execuções de prisioneiros pela Rússia

Entre os 60 ucranianos que foram entrevistados, 58 relataram algum tipo de violência praticada pelas tropas de Moscou

Tortura física e psicológica, violência sexual e execuções sumárias são frequentemente aplicadas pelas tropas da Rússia contra prisioneiros de guerra ucranianos na guerra em curso na Ucrânia. A denúncia consta de um relatório divulgado na terça-feira (26) pelo Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH).

O órgão da ONU (Organização das Nações Unidas) diz que entrevistou 60 ucranianos que em algum momento foram mantidos em cativeiro pelos russos e posteriormente libertados. Eles permaneceram detidos por períodos que vão desde algumas poucos semanas até 22 meses, e a maioria relatou abusos diversos no cativeiro.

“Os prisioneiros de guerra forneceram relatos credíveis e detalhados, consistentes com conclusões anteriores do ACNUDH de que a tortura e os maus-tratos de prisioneiros de guerra ucranianos em internamento russo são generalizados e rotineiros e que os prisioneiros de guerra são mantidos em condições que não estão em conformidade com os requisitos do DIH (direito internacional humanitário)”, diz o relatório.

Soldados ucranianos em Bakhmut (Foto: WikiCommons)

Dos 60 entrevistados, 58 confirmaram ter presenciado tortura e maus-tratos no cativeiro, sendo as formas mais comuns de violência choque elétrico, espancamento, ameaças de execução, execuções simuladas e tortura postural. Por vezes as agressões ocorrem sem motivo aparente, com os prisioneiros atingidos conforme se deslocam dentro das instalações.

“Os prisioneiros de guerra eram obrigados a permanecer em pé em suas celas durante todo o dia, durante determinados períodos de internação”, segundo as testemunhas. “Os prisioneiros de guerra submetidos a este tratamento descreveram-no como particularmente exaustivo, doloroso e prejudicial, causando inflamação e inchaço nas pernas.”

Casos de violência sexual foram relatados por 39 dos 60 entrevistados, com tentativas de estupro, ameaças de estupro e de castração e agressões e aplicação de choque elétrico contra os órgãos genitais.

Uma das testemunhas afirmou que “as autoridades russas o forçaram a se despir completamente, aplicaram choques eléctricos nos testículos e ameaçaram violentá-lo com um cassetete da polícia e cortar-lhe os testículos.”

Mortes são frequentes, tanto de prisioneiros que sucumbiram às agressões quanto em execuções sumárias. Foram reportados 32 execuções, sendo que sete vítimas foram devidamente identificadas, com seus casos documentados pelo ACNUDH. Os autores do relatório inclusive tiveram acesso a vídeos que mostram russos executando ucranianos que haviam deposto suas armas.

O relatório aborda o período entre 1º de dezembro de 2023 e 29 de fevereiro de 2024, intervalo no qual recebeu de Kiev autorização para entrevistar prisioneiros de guerra russos mantido sob poder da Ucrânia. Moscou, ao contrário, não concedeu acesso a qualquer prisioneiro ucraniano, forçando os autores a basearem sua avaliação em entrevistas com os 60 soldados libertados.

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