Ilia Mykhalchuk, um soldado ucraniano de 36 anos da 67ª Brigada Mecanizada, relatou ao jornal The Washington Post uma experiência de horror após ter sido capturado pelas forças russas enquanto combatia em Bakhmut no início deste ano. Durante os 46 dias em que esteve sob custódia do Wagner Group antes ser libertado por meio de uma troca de prisioneiros, ele afirmou que não foi interrogado para obter informações, mas sim submetido a torturas psicológicas.
Mykhalchuk revelou que, em vez de buscar informações de inteligência no campo de batalha, os mercenários raptores o submeteram à violência com um propósito aparentemente sádico. Ele comparou a situação à brincadeira de “um gato com um rato antes de matá-lo”, destacando a natureza cruel das ações.
Além disso, Mykhalchuk contou que os membros da organização paramilitar realizaram amputações rudimentares de ambos os seus braços acima dos cotovelos, após os membros terem sido gravemente feridos em combate. Ele relatou que a pele não foi suturada antes de os locais serem enfaixados.
As ações dos torturadores, segundo ele, perpetuaram um ambiente de terror, levando-o a acreditar que a sobrevivência era “uma questão de matar ou morrer”.
Recuperação nos EUA
Depois de passar por cirurgias corretivas na Ucrânia, Mykhalchuk foi levado para os Estados Unidos por uma coalizão de organizações beneficentes para receber reabilitação intensiva. Ele se encontra atualmente na região de Washington, em uma instalação especializada que o proporciona próteses de braço de uma empresa com vasta experiência no tratamento de militares norte-americanos que sofreram amputações durante os conflitos no Iraque e no Afeganistão.
A empresa Medical Center Orthotics and Prosthetics já atendeu 19 cidadãos ucranianos e mais estão a caminho. O atendimento é de alto custo: somente as próteses de braço para Mykhalchuk estão avaliadas em US$ 200 mil. Esse processo foi viabilizado por meio de contribuições da Brother’s Brother Foundation e do grupo de assistência United Help Ukraine, que financiam não somente os custos médicos, mas também abrangem moradia, alimentação, intérpretes e outras necessidades não relacionadas à saúde.
Crimes de guerra
Antes do motim fracassado do grupo contra a liderança militar russa em junho, as forças do Wagner na Ucrânia eram compostas por mercenários, assassinos condenados e ex-prisioneiros cumprindo penas reduzidas.
Financiado por Yevgeny Prigozhin, o grupo já enfrentou acusações de perpetrar centenas de ataques violentos e assassinatos contra civis africanos.
Desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, têm surgido relatos de forças russas cometendo crimes de guerra contra civis e soldados.
Em maio de 2023, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra o presidente russo Vladimir Putin, responsabilizando-o especificamente pela “deportação ilegal” e “transferência ilegal” de ucranianos, especialmente crianças, das áreas ocupadas da Ucrânia para a Federação Russa.